sábado

Oeiras e a patologia do medo e das interrogações

  • AFINAL, QUE HORAS SÃO EM OEIRAS??
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  • O futuro em formação
Rui:
  • Como dizia, no outro dia, no mail que enviei ao Dr. Jorge Zambujo, sinto-me, nesta história da comunicação via correio electrónico, como o saloio que desembarcava na estação de Stª. Apolónia acabado de chegar da sua santa terrinha. Por isso, irei continuar a escrever-te cartas, a que agora se chamam mails, e às quais tu, verdadeiro entendido destas coisas, tens toda a liberdade, na qualidade de meu sobrinho e filho intelectual, de lhes dares o destino que entenderes, colocando-as ou não à disposição dos leitores dos teus blogs. Fazer parte de um pequeno espaço comunitário, tipo aldeia de Rio de Onor, na fronteira norte com a Espanha, é uma ideia que me agrada. Dizer aquilo que pensamos, num círculo restrito e invisível - bem hajam Anonymus e Isabel Magalhães - é saudável, reconduz-nos ao tempo das famílias alargadas, das aldeias, onde cada um de nós tinha a sua identidade reconhecida, o seu lugar e onde sabíamos quem era quem.
  • A sensação de proximidade dos outros perdeu-se em grande medida nas cidades onde, na maioria dos casos, já nem vizinhos temos à força de os ignorar.
  • Esta falta de comunhão com os outros, agravada pela ausência da natureza nas nossas vidas - onde estão as estrelas do céu que eu via na minha juventude, deitado ao relento a guardar as espigas de milho na eira da tua bisavó!? - estas ausências, dos outros e da natureza, empobreceram e fragilizaram as nossas vidas e, em grande, parte estão na origem dos medos a que te referes na…"patologia do medo" e nas vidas destroçadas de que o "Zé Carlos" é um exemplo.
  • A solidão mata, e eu direi que é uma morte inglória em que todos nós somos coniventes. Cada sem abrigo é um terrível testemunho de uma sociedade que cresceu desmesuradamente, com perda de vínculos de parentesco, de vizinhança, de proximidade e de valores tão comezinhos como o de estender a mão em vez de virar a cara para o lado. Falta-nos o interesse dos outros relativamente a nós próprios, estas grandes comunidades de pessoas são demasiado recentes, não têm miolo, mecanismos naturais de convivência que possam ser os substitutos das relações entre as pessoas que se perderam com as nossas aldeias.
  • A política tem a ver com as sociedades, é lá que estão os seus ingredientes e as sociedades são as pessoas nas suas relações umas com as outras. Com a democratização do ensino, com o acesso fácil aos meios de comunicação, com a informação instantânea e à disposição de todos, parece um paradoxo que estes problemas aconteçam, mas não é. Toda a tecnologia deste mundo ao serviço do homem, é um fraco substituto das relações de carácter pessoal que ditam laços de solidariedade que nos fazem sentir que não vamos sozinhos nesta nossa breve passagem pelo mundo.
  • E é interessante perceber como esta recente tecnologia dos computadores imediatamente foi aproveitada para tentar preencher esta lacuna da vida das pessoas. Quantos mais somos mais desamparados nos sentimos e mais carentes ficamos de relações de proximidade que sejam referências, que nos ajudem a descodificar todo este ruído de fundo que nos atordoa e confunde.
  • Ainda fui a tempo de ouvir o debate dos candidatos à Câmara de Oeiras da Antena 1 e para o bem e para o mal, nada de novo. Para o bem, uma vez que a Dr.ª Teresa mantêm o seu estilo sóbrio e um discurso objectivo, falando à inteligência dos eleitores sem os inundar de falsas promessas que o Dr. Isaltino, para o mal, foi pródigo, tão pródigo que corre o risco de não o levarem a sério, especialmente se pensarem na sua sede de poder.
  • Creio que, por esta altura, o jogo já deve estar feito e o resultado final não seria hoje muito diferente daquele que irá acontecer, e isto porque o candidato Isaltino é uma personalidade demasiado vincada para deixar dúvidas. Em princípio de carreira a sua impetuosidade talvez lhe desse a vitória, aquele estilo exuberante e afirmativo iria convencer uns e receber de outros o benefício da dúvida. Ao fim de mais de 20 anos de vários poderes, de autarca e de ministro e de muitos charutos queimados, com histórias de sobrinhos pelo meio, não me parece mesmo nada que o resultado do sufrágio lhe possa ser favorável, tanto mais, e isto é muito importante, vai estar confrontado com uma candidatura que oferece aos eleitores toda a credibilidade, como de resto, ofereceu ao Dr. Isaltino ao indicar Teresa Zambujo indicou Presidente da Câmara antes de ir para Ministro. De tal forma que dá vontade de lhe perguntar o porquê da sua candidatura. Será que o desempenho da DrªTeresa ao longo de 3 anos e meio, defraudaram as expectativas que ele próprio nela tinha depositado, ou trata-se apenas de reaver o "brinquedo" que então lhe cedeu por troca com outro ainda mais aliciante?
  • Li hoje no jornal que o senhor de Matosinhos já ameaçou voltar a candidatar-se depois deste interregno a que a lei o obriga, e todos nós perguntamos se isto é um desafio, uma provocação ou, simplesmente, um atestado de menoridade aos restantes cidadãos.
  • Será que o poder ganhou raízes dentro destes senhores, será que não vamos mais vermo-nos livres deles enquanto estiverem vivos? sentir-se-ão reis de uma qualquer Monarquia cuja existência nos passou despercebida? Por que não se comportam como pessoas normais que reservam a parte final das suas vidas para descansarem dos stresses do poder, escreverem as memórias, brincarem com os netos, viajar, sei lá, com o desafogo que alcançaram e as suas chorudas reformas podem fazer tantas coisas…mas, por favor, dêem oportunidade a outros, não façam como o Dr. Mário Soares que depois de já ter sido tudo e jurado a pés juntos que já não queria ser mais nada - aí o vamos ter outra vez na estrada à conquista de votos.
  • Eu sei, Rui, que também já te interrogaste relativamente à razão de ser da candidatura de Isaltino Morais e muitos outros, concerteza, ter-se-ão igualmente interrogado, é bom que nos interroguemos, é importante que o façamos.
  • Bom, já é tarde e as interrogações aí ficam.
Xau, Boa Noite. Tio Quim