quarta-feira

António José Saraiva - um grande português...

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  • Dizia o meu Querido Pai - que partiu no Natal de 2000 - sem deixar aviso prévio - que se não sabes não mexas. Podes estragar... Eis o que procuro fazer com a Correspondência de António José Saraiva e Óscar Lopes nas mãos - numa edição de Leonor Curado Neves.
  • Só sei que se quiser fazer um artigo sobre Eça de Queiroz - vou ter com esse grande português plural, rebelde e inconformista - que foi António José Saraiva (AJS); se quiser aperfeiçoar os meus parcos conhecimentos estético-literários, filosóficos, culturais e até políticos, vou ter com AJS; se quiser fazer um ensaio sobre o PCP também vou ter com o Historiador, pois sei que encontro aquilo que procuro nos seus livros. Sei também que viveu como pensou sem, contudo, ter pensado como viveu. Integrou aquela rara seita de homens bons, corajosos e cultos que, como Giordano Bruno, lutaram pela liberdade de pensar contra as maiorias instaladas, mesmo que elas agora mudem de mão e de postos nos altares do capitalismo predatório que, pela 1ª vez na história, está a avançar sem criar emprego. Pobre de Marx, ante esse turbo-capitalismo, se visse no que se transformou o mundo. Talvez numa outra igreja... Saraiva combateu a ortodoxia, porque viu nela o perigo máximo para o pensamento, para o esprit de descoberta. Se quiser revisitar as raízes e tocar na epopeia d' Os Lusíadas - lá estou de novo em diálogo com AJS. Reaprendendo que o meu Portugal foi, afinal, a realização de um ideal humanista, uma epopeia de poetas humanistas que talvez pretendam encontrar hoje um paralelo dos feitos contados pelos poetas antigos. Mas tudo isso, por outro lado, não pode deixar de ser um sub-produto de uma ideologia marcada, cavaleiresca. António José Saraiva - bem acompanhado por outro consagrado da história da cultura e da literatura portuguesas, oferece-nos de tudo um pouco. O melhor que ainda temos, mesmo que só em memória. Uma memória que pode ser o caminho do futuro e um alento para este dramático presente. Especialmente, para aqueles que também vivem como pensam sem, todavia, pensarem como vivem.
  • Só sei que são trabalhos como este que nos adverterm que o Estado - em matéria de Educação nacional - deveria existir para subsidiar na íntegra este tipo de obras a fim de que as mesmas pudessem ser distribuídas gratuitamente nas escolas secundárias e nas universidades em Portugal. A utopia d'hoje pode ser a realidade de amanhã.
  • António José Saraiva (1917-1993)
«Eu sou existencialmente inconformista. Eu sou, de origem, um camponês. Eu fui espiritualmente cristão e teoricamente marxista. Eu estou contra a sociedade, independentemente das teorias. Eu acredito no espírito, mas não sou capaz de o definir(...)», assim se descreve este historiador e literato. Doutorado em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Demitido, por razões políticas, do Ensino Liceal (1940). Autor de vasta produção sobre história da literatura e cultura portuguesas. Sinopse «Se um dia pudermos conversar poderei pôr-te ao corrente do que agora sou. Nós não somos só em relação a nós mas em relação a outrem, e nesse outrem ocupas o primeiro plano. Desde a nossa juventude me tenho definido um pouco em relação a ti, e embora nos vejamos pouco és, de facto, o meu principal interlocutor. Quando te exponho o que penso fico à espera do que de lá vem em resposta, e o que dizes ou escreves, embora eu possa contradizê-lo imediatamente, fica a trabalhar dentro de mim — até dar qualquer fruto, às vezes anos depois.» (António José Saraiva, Paris, Outubro de 1967
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