quinta-feira

Desencontro dos líderes da direita e o gap histórico entre Portas e Passos na decadência do cavaquismo


Se olharmos para a direita portuguesa vemos que ela se encontra em acelerada recomposição, num caso, e em manifesta decomposição, noutro caso.

Explicito de forma vaga e tosca, porque os agentes em presença e o tema não merecem mais: no CDS, o pequeno partido que acabou por ser a charneira do PSD no governo da troika nos últimos 4 anos, assistimos à "reforma" partidária do seu líder, mas não à sua reforma política. 

Portas vai trabalhar para o empresariado donde, aliás, ele nunca esteve ausente. Mas o timing com que o faz revela amadurecimento e sentido de oportunidade (ou oportunismo!!). Sai com créditos e vai, seguramente, acumular mais créditos pessoais, os quais poderá potenciar daqui por uns anos no quadro doutra luta política. 

Portas sai do partido, mas deixa-o com quadros preparados e uma liderança que tem agora um longo caminho de afirmação: interna, no seio do partido do Largo do Caldas, que nunca ganhou umas eleições legislativas em Portugal, e na frente externa - na dialéctica com os demais partidos com representação parlamentar. Ou seja, Portas sai em alta e deixa o CDS com mais activos do que aqueles que encontrou quando tomou conta do partido, ao longo destes 16 anos de liderança carismática.

Ao invés, Passos Coelho não soube sair a tempo do PSD. Tem uma imagem profundamente desgastada, dentro do seu partido é mais tolerado do que amado, e é-o por manifesta ausência de potenciais líderes, o que revela a forma como o PSD não soube rejuvenescer os seus quadros e afirmar novas lideranças, seja no plano nacional seja no plano autárquico. 

No plano pessoal, Passos destila ódio e rancor, até ofusca as câmaras de tv que o filmam dizendo sempre as mesmas banalidades de sempre, naquele registo de estagiário empertigado que mais parece estar a falar diante da rainha e do Papa. É claro que este desiderato Portugal fica a devê-lo ao BE e ao PCP, que, em rigor, apearam Passos do poder, e bem. Um facto inédito em Portugal. 

Passos é hoje a imagem doméstica da troika intra-muros. Ele encarna aquela espécie de delegado do Schauble em Lisboa, que se hospedou no Centro Comercial Imaviz para tratar duns assuntos ligados aos fundos comunitários e a projectos de interesse germânico sedeados  em Lisboa.

Discorda de tudo quanto é discutido e aprovado no Parlamento. Passos pouco fala, anda cabisbaixo, repete-se, naquele seu registo esgotado que empobreceu Portugal e os portugueses. Podia ter aprendido algo com Portas, mas nem isso. Passos é, assim, a antítese de Portas: no partido, no Parlamento, na sociedade e na economia. Enquanto que o parceiro menor da coligação pafiosa é solicitado pelo empresariado, Passos está votado ao apodrecimento político, até que alguém no PSD acorde e se lembre que o partido de Sá Carneiro tem de voltar a ser genuinamente social-democrata, inter-classista e não definhar à cadência do deserto da estrutura capilar do actual chefe do economato do PSD.

E é curioso que aquele que mais contribuiu para destruir Cavaco e o cavaquismo nos anos 90 - enquanto director do Indy, seja hoje um activo em potência da vida pública nacional. Por contraponto, Passos como que se amolga no próprio lodo cavaquista e tenderá a dissolver-se na má imagem que o PR cessante deixou em Portugal e junto dos portugueses. É como se afundassem ambos, cavaco e Passos, de mãos dadas. Conhecem o mesmo destino, ainda que sejam actores políticos de gerações distintas.

Esta podia ser, de forma algo tosca, a estória da troika doméstica que já fez duas vítimas e regista um activo, agora migrado no empresariado donde, aliás, nunca saiu.

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