quarta-feira

A Grécia de Tsipras reposiciona-se geo-estratégicamente. Uma nova cultura política no poder



Será interessante, senão revolucionário, ver como Tsipras está a alterar profundamente a forma de fazer política (doméstica e internacional) na Grécia, logo no seu 1º dia de governo (informal) com um conselho de ministros em directo, ainda que com a bolsa grega no vermelho e os juros a dispararem..

O que fez Tsipras!?: 

1. Homenageou as vítimas do nazismo, o que poderá prenunciar uma reclamação de compensação de guerra pelas vítimas que gerou ao tempo da Alemanha nazi. Um facto que é, politica e simbolicamente, relevante e configura um verdadeiro pontapé na nuca da chancelarina Merkel, a DDT. 

2. Depois, Tsipras faz uma nítida colagem ao embaixador russo - dando a entender à Alemanha - e à Europa em geral - que o novo posicionamento da Grécia no xadrez internacional se aproxima mais da Rússia de Putin do que da grande Alemanha, a qual tem feito a vida negra à Grécia, mas também aos países do Sul, entre os quais se encontra o ultra-liberal Portugal. Um pequeno país governado por um PM ainda mais pequeno - que radicalizou todas as políticas económicas e sociais do XIX Governo (in)Constitucional de 2011 até ao momento, em larga medida por imposição de Merkel. 

Ora, esta colagem (estratégica) da Grécia à Rússia - logo, um afastamento de Berlim, traduz o que Tsipras tenciona fazer de futuro em matéria de alinhamento de política externa, colocando a Grécia sob a órbita soviética, russa, com isso gerando estragos na Aliança Atlântica (NATO) de que a Grécia faz parte, até pela sua importante posição geopolítica no Mediterrâneo Oriental. Se este cenário vier a consolidar-se, então a Rússia conquistará um grande ascendente geopolítico e geoestratégico sobre a Europa, e talvez assim os EUA voltem a re-valorizar o papel estratégico que durante décadas teve a Base Aérea  das Lajes, subordinada ao Comando da Zona Aérea dos Açores.

Nesta matéria, será muito interessante conhecer a reacção dos EUA e dos países da NATO!!!

No domínio da micro-política ou da política doméstica, igualmente importante para o nível de vida e de bem-estar das populações, também foi sintomática a acção de Tsipras, especialmente ao reintegrar na função pública pessoas que haviam sido despedidas injustamente, pôs termo às privatizações, vai facultar electricidade gratuita para cerca de meio milhão de gregos mais carenciados e elevar para 751€uros o salário mínimo nacional. O que deixa Portugal a milhas de distância, apesar de serem países muito comparados nos índices de população, de economia, de sociedade e desenvolvimento. Talvez na Grécia haja um pouco mais de corrupção, e também de "paralíticos", para retomar uma expressão deficiente dum jornalista trauliteiro que a RTP enviou para o berço da democracia. Porventura, por não ter mais nenhum pior preparado para o efeito... 

Se recuarmos 40 anos, até 1974, facilmente constataremos que muitas dessas medidas também foram tomadas entre nós, as tais conquistas de Abril que hoje o sr. Passos se encarrega de arrogantemente destruir, com isso agravando as desigualdades entre os mais necessitados e cavando um fosso ainda maior ao nível da pobreza em Portugal. Há hoje mais pobres, a classe média está quase toda destruída e, com isso, desapareceu a procura interna. Os mercados pararam e Portugal converteu-se numa enorme tabeleta dizendo: VENDE-SE.

Portugal carece dum choque político assim: à grega!!. O PCP e o BE nunca integraram o Governo, mas têm algumas ideias interessantes, além doutras perfeitamente utópicas e irrealizáveis, mas seria interessante que amanhã - sob liderança do PS - as pastas da Segurança Social e Trabalho, Agricultura, Saúde e Educação - por serem as mais sociais e as que consomem mais recursos ao erário público - fossem atribuídas - repartidamente - àqueles dois partidos que têm sido partidos anti-sistema. 

Com tantos erros, fracassado experimentalismo político, incompetência, corrupção, negligência e o mais praticados ao longo dos anos pelo chamado arco da governação - a melhor forma de co-responsabilizar esses pequenos partidos anti-sistema seria chamá-los à governação e pô-los à prova. Uma coisa sabemos: o PCP - em algumas autarquias, como Loures, por ex., tem feito um trabalho social reconhecido pelas populações, e isso é importante para se perceber o que poderiam fazer no plano da administração central, ou seja, no âmbito do governo da nação. 

Nunca esperei pensar e dizer isto, nem escrevê-lo, mas com a corrupção e os brutais níveis de incompetência que actualmente graça no XIX Governo (in)Constitucional - fazem com que os factos nos convidem a encarar essa experiência política nacional, pois pior do que estamos será difícil ficar!!!

Quanto à Grécia e ao seu novel líder - este só terá de fazer um duplo agradecimento a Merkel e ao seu guarda-livros, o desertor Barroso, pois foram eles que empurraram a Grécia para esta realidade. Veremos se esta radicalização isola o país tornando mais precárias as condições de vida dos gregos, ou se, como se prevê, a Grécia se reposiciona em alta e consegue criar condições socioeconómicas para elevar o seu nível de produtividade e de competitividade e, com isso, aumentar também o padrão de vida das populações.

Creio que será esta última possibilidade aquela que verá luz do dia. Até porque na Grécia a política já virou uma questão de honra.., apesar dos mercados estarem voláteis e quererem continuar a mandar na democracia. 

Esta também é uma guerra da legitimidade democrática contra a ditadura dos mercados... 

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