O congresso do eu
Paulo Portas, tal Kim Jong-Un, passeou o olhar soberbo e altaneiro pelos circunstantes, tratou, com displicente desdém, Filipe Anacoreta Correia, que ousara opor-se-lhe, e aquele olhar eram balas de um fuzilamento que, por ser metafórico, não deixou de causar arrepios de terror. Quase de seguida disse: se Luís Nobre Guedes o desejar, pode sentar-se num dos lugares do Conselho Nacional. O nomeado (a quem o Marcelo chama, apenas, Luís Guedes, porque diz que Nobre é um apêndice postiço, uma espécie de pseudónimo inseguro) aparecera em Oliveira do Bairro como um círio fúnebre, desamparado e trágico. Fora, há anos, da convivência de Portas, amigos de peito e de fadário, mas uma zanga tão absurda como fatal lançara Guedes no infortúnio do ostracismo. Nunca se ressarciu do imenso desgosto, e pensa-se que o seu reaparecimento em Oliveira do Bairro se deve a um pedido de misericórdia. Tristíssimo, solitário apareceu no conclave quase com o baraço ao pescoço, até que ouviu o indulto de Portas.
Se Nobre Guedes pareceu um fantasma, movendo-se com as cautelas de um neófito, temendo as iras do chefe, Paulo Portas não está melhor. Gordo, cheio de rugas, falsa desenvoltura no andar, penteado à escova calvície mal dissimulada, o homem despencou-se, a seguir, nos discursos atrapalhados, sem o brilho de outrora, nem a firmeza costumeira do adjectivo e da sinédoque.
A "explicação" pretendida acerca da famosa "decisão irrevogável" não apagou a falta de carácter que o dito pelo não dito divulgara à puridade. Portas é o que é: o Portas que há, o Portas que se arranja.
O episódio com Filipe Anacoreta Correia, ao que me dizem pessoa estimável, é denunciador das características totalitárias de um homem que apenas deseja o poder, e não desdenha a prática da insídia e da sacanice. Na lista das perfídias estão, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa e Manuel Monteiro.
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Obs: Medite-se nas palavras realistas de BB.
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