segunda-feira

Uma interessante entrevista a Hannah Arendt: a pensadora do séc. XX e algumas digressões pela nossa contemporaneidade


Uma profícua entrevista àquela que é, talvez, a maior pensadora do séc. XX: Hannah Arendt (1906-75) - seja pelas qualidades próprias, seja pela pressão das circunstâncias histórico-políticas que despertaram nela - especialmente após a emigração (França e EUA) na sequência da chegada dos nazis ao poder (em 1933) - as preocupações, os conceitos que permitiram compreender a dinâmica histórica, a ascenção do mal e tudo o que veio depois conhecido pelo holocausto nazi com a morte de milhões de judeus às mãos de Adolfo. 

É, aliás, interessante a distinção que faz entre ser uma cultora da Teoria Política (área em que se insere) e ser um Filósofo (que sempre recusou ser, seguramente por um misto de modéstia e pudor) mas que, na prática, acabou por ser, dado que as suas categorias de entendimento e compreensão vertidos nos seus trabalhos, especialmente, em As Origens do Totalitarismo (1951) e a Condição Humana (1958) - fizeram dela, inequívocamente, uma pensadora que transmitia um corpo de conhecimentos original cuja investigação foi seminal em muitos aspectos. 

A natureza da revolução, a natureza do poder, a liberdade, a autoridade e outros conceitos nucleares da Ciência Política fizeram dela um marco incontornável da História e evolução das ideias e das correntes de pensamento do séc. XX. O modo como hoje todos nós, no 1º quartel do séc. XXI, somos influenciados pelas suas percepções e categoriais intelectuais do entendimento e compreensão da história - no plano político e ético-moral - colocam Arendt num lugar à  parte na galeria de pensadores do séc. XX. 

Mas o mais interessante nos relatos do julgamento de Eichman não foi o facto de ele ser um indivíduo com traços anti-semitas, logo alguém que odiava profundamente os judeus, mas, acima de tudo, um sujeito cujas características doentias o faziam agir animado por um desejo estrutural de fazer o mal. Um mal fundamentado na obediência cega às ordens superiores que recebia, logo enquadrado pela (suposta) legalidade. 

Mutatis mutandis, e salvaguardadas as devidas distâncias, quantos são hoje os agentes políticos, os burocratas (na pequena, média e alta administração) que agem precisamente assim, com um profundo desprezo pela dignidade e condição humana, sobretudo quando se trata de enviar para "o caixote do lixo da pobreza" (mais pobreza ainda!!!) milhões de portugueses que já vivem de pensões miseráveis, muitos dos quais já estão no limiar da pobreza, e que se defrontam com as medidas que estão em curso pelo XIX Gov (in)Constitucional com situações de fome, de carência de toda a ordem, designadamente de incapacidade financeira de adquirir medicamentos, apoios sociais vários de que dependem os cuidados primários. 

Bem sei que esta não é uma comparação, talvez uma analogia, porquanto o holocausto nazi não tem comparação possível com nada, mas o que está em curso em muitas sociedades do nosso tempo é um misto de incompetência na preparação e execução das medidas mitigadas com uma total ausência de previsibilidade das suas consequências sociais. E é esta incapacidade de sentir e de racionalizar as medidas que estão na forja em Portugal que faz pensar os mais lúcidos do seguinte: será que existe algum sentimento de "bem" ou de "mal" nesse amontoado de gente que hoje integra o supra-citado governo? Tenho as maiores dúvidas. 

Também por isso, sou de parecer que o ainda primeiro ministro deveria passar uma semana em cada mês num país do 3º mundo para tentar compreender como se vive (ou sobrevive) com um valor duma pensão que ele - como mero mandatário da Troika - pretende impor a milhões de portugueses. Uma pretensão que será chumbada pelo TC, seguramente. 

E mesmo que a proposta de viver um tempo no 3º mundo não seja acolhida, também não será inviabilizadora do efeito da experiência que se pretende obter, dado que no 3º Mundo já vivem a maior parte dos portugueses, mormente a partir do verão de 2011.



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