quarta-feira

Alexandre Soares dos Santos é um génio e o Pingo Doce um milagre económico




Alexandre Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins e um dos homens mais ricos e empreendedores do país, conseguiu no dia 1 de Maio, Dia Internacional do trabalhador, pôr grande parte dos seus colaboradores a trabalhar, vendeu mais num dia nas suas lojas Pingo Doce do que num mês, rebentando a concorrência e, com uma jogada de marketing tão simples quanto original, escoou muitos dos seus produtos que doutro modo levaria um trimestre a escoar no mercado. Tudo receitas simples, mas que, na prática, funcionaram às mil maravilhas. 

Daqui nascem algumas questões legítimas. A primeira das quais é saber se ele tudo sacrifica em nome das vendas e do dinheiro? Ou seja, se ele sacrifica os seus trabalhadores unicamente aos objectivos económicos? Creio, pelo que se sabe do sector, que o grupo JM é o que melhor paga aos seus colaboradores, pelo que será provável que este dia de trabalho será fortemente compensado, até porque terá excedido largamente os objectivos de marketing propostos.

Em segundo lugar, a concorrência deverá ter ficado surpreendida com esta jogada de marketing do grupo JM, o que revela que são as ideias simples, aquelas que estão à frente do nosso nariz, as mais difíceis de identificar e de tomar. Também aqui Alexandre Soares dos Santos marcou pontos em toda a linha. 

Em terceiro lugar, e num plano mais macrosociológico, o "Portugal dos pequeninos" foi hoje tirar o retrato às portas do Pingo Doce por esse país urbano e rural, central e periférico, a duas, a três e a mais velocidades. Vi ram-se algumas dessas lojas povoadas com multidões de pessoas que ali estava um Portugal que ia ao negócio, à compra para a revenda: africanos, o tuga típico, pessoas de etnia cigana, o português médio, o de média e baixa condição e também o de baixa condição. Todos, cada qual à sua escala e dimensão, viram no Pingo Doce uma fonte de ganhar uns trocos, seja para abastecimento e consumo próprio, seja para revender alguns daqueles bens ali comprados com a promoção engendrada dos 100euros e pague metade. 

Resultado: o grupo JM fez um encaixe financeiro antecipado brutal com esta mézinha de marketing no Dia Internacional do trabalhador, conquistou um share de marketing - em todos os media - sem precedentes em Portugal, não teve que pagar a Pub. e, ainda por cima, irá certamente compensar os seus colaboradores com um prémio de produtividade ímpar. 

Por este conjunto de razões, Alexandre Soares dos Santos está de parabéns. 

Em breve, somam-se investimentos na indústria e não me surpreenderia se amanhã o empresário pedisse aos portugueses que hoje afluíram às suas lojas que vendam o seu cabelo para encher bolas de ténis. E depois convença os portugueses de mais elevada condição socioeconómica a investir em campos de ténis.

É por estas razões que Alexandre Soares dos Santos é um génio e o Pingo Doce um milagre económico. Se virmos bem, e atentarmos na recessão que grassa em Portugal, podemos revisitar neste episódio uma versão bíblica do milagre da multiplicação dos pães...

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