segunda-feira

Luís Amado e a mentira política

Ver Luís Amado defender uma coligação entre PS e PSD para proteger os mercados foi ridículo, anti-patriótico e serviu para gozar com os portugueses ao tentar vender-lhes uma versão dos factos que não está em sintonia com a verdade efectiva das coisas, como diria Nicolau Maquiavel.
A charla de Amado lembrou-me que não existe publicidade branda e publicidade dura. Existe apenas publicidade inteligente e publicidade estúpida, como em tempos dedendeu um grande publicitário, o que contrasta com a conduta regular do MNE: normalmente sóbria, com common sense e discreta, ou seja, o contrário do que fez desta vez, que verteu Amado num pequeno elefante numa loja de porcelanas.
Grave é que Amado pretendeu dar uma ideia de que está preocupado com o país e a recuperação da confiança da economia nacional, mas apenas reflectiu as preocupações partidárias e as suas tensões internas, a fim de avaliar interesses, intenções e expectativas no campo operacional da sua liderança futura. Esta dramatização conduz-nos precisamente à mentira política, que é um capítulo em crescendo estudado na CP e cuja finalidade é estudar a perpetuação duma ficção, ou seja, sendo a mentira o oposto da verdade, para que esta exista é preciso que aquele que mente tenha acesso à verdade, usando a mentira (ou uma ficção que sirva para iludir a realidade dos números da nossa economia) para subordinar os outros vedando-lhes o acesso à informação verdadeira.
No fundo, aquilo que o ministro Amado fez não foi mais do que um ensaio geral para simular o futuro dentro e fora do PS, pondo em marcha o mecanismo da funcionalidade da mentira a fim de melhor manipular as subjectividades ao nível da opinião pública doméstica e, ao mesmo tempo, racionalizar as percepções da situação política, económica e financeira em Portugal. E é em função dessas respostas que Luís Amado pretendia recolher informações para construir o seu sistema de respostas à crise.
Sucede, porém, que Amado vive hoje num país de politólogos que sabem mais do que ele, descodificam a sua mensagem ainda antes de ele terminar a idiotice política de que foi autor, com a agravante de que, doravante, Amado seja um "mal-Amado", pois nunca mais será levado a sério nas suas declarações públicas, já que o precedente grave que inaugurou foi no sentido de aduzir voluntária e cirúrgicamente falsos pressupostos para medir comportamentos.
Em rigor, a mentira coloca a liberdade dos outros em suspenso, e aqui Amado tentou fazer de alguns milhares de portugueses uns parvinhos, e esses, seguramente, não lhe irão perdoar o role-playing a que se prestou, pondo os interesses partidários muito acima dos superiores interesses da economia nacional.
É por causa de situações como esta que os portugueses estão fartos da política, acham que grande parte dos políticos não passam duns charlatães, e, se assim é, somos forçados a concluir que o autor desta charla, que até cultiva um perfil supra-partidário, deu um forte contributo para que os eleitores portugueses tenham razão em pensar como pensam relativamente ao seu escol dirigente.
Esta prestação, sendo o pólo gerador duma mentira política neste momento delicado da economia nacional, significará uma página negra na vida pública de Luís amado.

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