domingo

Paulo Rangel: "Passos tem condições para dar uma maioria absoluta ao PSD"

Eurodeputado admite que a crise leve os sociais-democratas a viabilizar próximo Orçamento, mas faz severas críticas a José Sócrates.
Por Leonete Botelho, Nuno Simas
Público
Paulo Rangel foi eleito há um ano deputado europeu (Pedro Cunha (Arquivo)
Paulo Rangel foi eleito há um ano deputado europeu, averbando uma vitória ao PSD que depois não alavancou os resultados nas legislativas. É vice-presidente do PPE e foi o principal adversário de Pedro Passos Coelho na corrida à liderança do PSD. Hoje elogia-o e mostra-se disponível para colaborar no que for útil. E acredita que a chegada de Passos ao Governo é uma questão de tempo.
O líder do PSD fez bem em apoiar as medidas de austeridade do Governo?
Sem dúvida. Aliás, começo por lembrar que, na campanha interna, sempre defendi que o PSD devia forçar o Governo a governar e evitar uma crise política. E também defendi que devíamos fazer uma oposição responsável. Julgo que estes dois princípios têm sido seguidos de um modo extremamente conseguido por parte do presidente Pedro Passos Coelho. Ele conseguiu fazer uma oposição responsável: em nenhum momento é confundido com o Governo e, no entanto, não deixou de apoiar aquelas medidas que, mesmo sendo insuficientes, ele reputou como indispensáveis para que o país não ficasse em falso.
Pedro Passos Coelho pediu desculpa aos portugueses por ter dado o aval a um aumento de impostos que não tinha defendido. Como viu essa atitude?
Compreendo que tivesse de ser dada uma explicação para ter mudado de opinião. Mas esse é um traço positivo e que marca uma diferença muito visível entre o primeiro-ministro e o presidente do PSD: Passos Coelho não é um egocêntrico e isso permite-lhe ter essa capacidade de pedir desculpa e ter um sentido institucional que outros líderes não têm.
Nestas medidas de austeridade, porque é que defende a redução salarial, que só atinge os trabalhadores por conta de outrem? Não é mais democrático fazer subir os impostos?
Acho que os dois devem ser combinados. A redução salarial só se faria a partir de determinados escalões, mas só ela é eficaz para reduzir efectivamente a despesa, enquanto a subida de impostos é limitada, não se pode fazer sempre, há alturas em que eles têm de descer. É possível fazer muitas coisas na redução da despesa, mas não sei se não teremos de chegar a esse extremo de reduzir salários. Não é nada que não tenha feito a Letónia, a Roménia, a Espanha, a Irlanda, a Grécia ou a Alemanha.
O PSD deve viabilizar o próximo Orçamento do Estado?
Vai depender muito do Orçamento, e este vai ser ditado muito por circunstâncias externas e exteriores à vontade do Governo. Nesse sentido, antevejo que o PSD tenha fortes condições de viabilizar um Orçamento, porque, em rigor, com as condicionantes e as restrições com que Portugal vive hoje no plano internacional, o Orçamento terá de ter uma solução quase unívoca, sem grandes alternativas.
Também não há vantagem nenhuma em abrir uma crise política...
Claro, mas se o Orçamento for delirante, não se pode aprová-lo. Não vai ser porque as circunstâncias externas não vão permitir. Mas com o engenheiro Sócrates nunca se sabe.
E no próximo ano?
A minha análise é mais funda. Vivemos em crise política há algum tempo. A questão é quando é que se vai revelar. Por isso, eu defendi para o PSD e para o país um projecto de ruptura: um corte que passe por medidas mais drásticas e difíceis. Todas as pessoas sentem a crise, que já foi retratada pelo Presidente da República como insustentável.
Mas há quem defenda - e até se tem ouvido ex-presidentes dizê-lo - que a solução para esta crise é um Bloco Central ou um Governo de salvação nacional.
A situação de crise, que se arrasta desde finais de 2008, com algum apodrecimento político, que não se resolveu com as legislativas, pelo contrário, pode exigir soluções mais exigentes que o curso normal da democracia aconselharia. Mas penso que o PSD tem todas as condições para forjar uma maioria absoluta e governar sozinho. É a solução mais salutar.
Ou com o CDS, como já admitiu a direcção do PSD?
Com o CDS, se precisar do CDS. Estou muito à-vontade, porque fui muito criticado por ser a pessoa que, dentro do PSD, disse que o nosso parceiro natural é o CDS. Numa situação tão crítica, que se arrasta há dois anos e vai prolongar-se até às presidenciais, de certo apodrecimento político e impasse em que vivemos, a saída mais salutar era um Governo de maioria absoluta do PSD. Era uma solução de normalidade para uma situação de excepção.
Acha que pode haver uma precipitação de eleições mesmo antes das eleições presidenciais?
Já há pouco tempo, porque, entretanto, o Presidente deixa de poder dissolver a Assembleia da República. O que poderia haver - e é isso que penso que personalidades influentes e patriotas de renome defendem - é uma mudança de Governo sem eleições, passando por um Bloco Central, porventura com uma maior intervenção presidencial. Essa seria uma solução de excepção para uma situação de excepção. Mas julgo que o PSD tem todas as condições - e o seu presidente tem mais condições que outros líderes no passado - para protagonizar uma solução de normalidade para uma situação de excepção: uma vitória do PSD com maioria absoluta.
As sondagens dão uma subida ao PSD. Acha que é uma tendência ou uma subida conjuntural?
É uma tendência clara. O Governo está esgotado. Em certo sentido, já estava esgotado antes de se ter esgotado porque não tinha um projecto para o país, tinha um projecto de controlo.
Pelo que disse, acha que é uma questão de tempo o PSD chegar ao poder. Estará disponível para integrar um Governo de Pedro Passos Coelho? Não ponho a questão assim. Apoiarei na medida em que possa ser útil. Sempre fui defensor de que o primeiro-ministro deve ter total liberdade na composição das suas equipas. Qualquer declaração que se faça, para o sim e para o não, condiciona. E não o faço. A minha colaboração com o PSD é total, é isso que tenho feito e vou continuar a fazer. Vou fazê-lo com espírito de liberdade e independência crítica que sempre tive e vou manter. Penso ser a melhor forma de ajudar o PSD.
Obs: Há muito que já se perceberam duas coisas: o actual governo não completará a sua legislatura até ao fim, pode cair após as eleições presidenciais observado o prazo constitucional para o efeito; e que Rangel, caso o psd ganhe as eleições, irá a ministro da Justiça ou da administração do território, dada a sua famosa "claustrofobia democrática". Quanto a uma nova geração de ideias conducentes a projectos que tirem o país da letargia em que está - não se identificam opções, e isso prefigura mais Sócrates no poder, o que, malgré tout, será um mal menor.

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