Declaração asinina de Cavaco silva: o grau zero da política
Já aqui comentámos as prestações sofríveis de Cavaco. Portugal míngua. Mas deixámos passar uma para agora a analisar e medir bem a dimensão da pessoa que os portugueses escolheram para os representar em Belém. Cavaco referiu na sua entrevista à RTP que em matéria de recandidatura presidencial tinha de consultar os registos daquilo que os seus antecessores fizeram para tomar a sua própria decisão. Na altura estremeci, pensei que poderia ter entendido mal aquela tirada e que, afinal, o destituído era eu. De facto, a política é inovação, criatividade. Não há regras fixas e rígidas em política, pois estamos no domínio do possível, e a política além de técnica também é arte. Por isso, é problemático interpretar aquela tirada de cavaco: vai ver quando é que Eanes, Soares e Sampaio "espirraram" para ele próprio, na Travessa do Possolo à Lapa, produzir o seu espirrinho manhoso. Nem em anedota isto renderia. É o novel tábu de cavaco, como não sabe que expedientes utilizar para prorrogar a sua decisão e nutrir a curiosidade dos tugas (decisão há muito tomada) de se recandidatar esgalha esta pernada algarvia sem nexo pensando, assim, que seduz os portugueses e os entretém ante a sua inépcia. O país ficou a saber que cavaco reune a família para comunicar a sua decisão nos termos que Eanes, Soares e Sampaio o fizeram, a regra e esquadro. Cavaco, de facto, tem momentos de grande idiotice, que mais não é do que intervalos da memória e que faz, como Camões em tempos explicara - que o fraco rei faça fraca a forte gente. Cavaco ao afirmar que vai pelagiar os seus antecessores reconheceu a mediocridade da imagem que os governantes dão hoje de si, homens sem rasgo, sem ideias, homens medianos, homens-massa como diria Ortega y Gasset - que só por um acaso chegaram onde chegaram. Neste jogo, o homem de Estado já não se mede pela sua capacidade de decisão brutal ou inesperada, mas pelo seu poder de convicção ou de sedução sobre os seus concidadãos, e aquilo que cavaco conseguiu naquela trivial entre-vista a Judite de Sousa na RTP1 - paga por todos nós - foi reconhecer que para se fazer eleger certos players é capaz das frases e das formulações mais asininas procurando, desse modo, fazer um approach entre a opinião dos eleitores e o mercado político que a favorece. E isto é tanto mais paradoxal quanto admitirmos que a opinião, mesmo a do PR, tem o dever de ser inteligente, gozar de um certo common sense, tal como o mercado é - ou deve ser - racional. Ora, quando um PR diz que vai determinar a escolha do timing à sua recandidatura a Belém pelo diapasão que os seus antecessores escolheram, está a dizer aos tugas que é um "macaquinho de imitação" sem massa crítica para modelar as circunstâncias ao seu tempo e ao seu modo. E quando se reconhece uma bizarria destas em público está tudo dito, não apenas relativamente ao político como também no que diz respeito à pessoa que está por trás do político. Os portugueses, mesmo os mais idiotas, mereciam melhor. safa!!! PS: Eis o novo tabú de cavaco: falar quando os outros falaram. Começo a pensar que o poeta Manuel Alegre tem fortes probabilidades de ganhar.
<< Home