quinta-feira

Alberto joão jardim e a teoria do bode expiatório

A recente crise política, aberta na sequência da discussão e eventual aprovação da Lei das finanças regionais, veio revelar a todos a efectiva fragilidade do nosso sistema político e a dificuldade que é, de facto, governar em maioria relativa. Alberto jardim está no centro do furacão por uma razão óbvia: quer mais dinheiro para a sua ilha, ainda que ela já se tenha desenvolvido e modernizado mais do que a maior parte das regiões do continente, do Alentejo ao Minho. Mas como Al berto não desiste e tem tradição em parasitar o OE, coisa que já faz há cerca de trinta e cinco anos, desde a fundação do regime democrático, com inteiro sucesso e seguindo sempre o mesmo método – a chantagem - julga que poderá continuar a mesma metodologia com iguais resultados. Aproveitando, na trajectória, a fraqueza do governo em funções por se tratar de um governo minoritário na AR. Guilherme silva é o habitual "homem-de-mão" de Al berto para executar essa tradicional chantagem política à república.
Mas este mecanismo de parasitagem ou de proxenetismo político (de facto, a expressão é feia, mas encarna a realidade!!!) tem raízes mais fundas e decorre do facto de as finanças públicas em Portugal nunca terem conseguido corrigir os seus desvios às tendências de equilíbrio, sobretudo agora com um défice entre os 8 e 9%. Mesmo que seja intencional e deliberado, como refere o PM a fim de ajudar as empresas e as famílias portuguesas.
Essa falta de referências faz com que os agentes políticos conduzam ceguinhos um camião enorme chamado Estado. É como ir fazer uma circum-navegação sem mapa, aí todos os actores perdem credibilidade e deixa de haver confiança no futuro. Cada actor político fica preso à vontade e ao capricho do outro, ninguém quer fazer concessões para não perder a face e, assim, se criou um clima em Portugal – nas finanças, na economia e na sociedade – de impossibilidade de debelar a crise que atingiu a sociedade e começar a regenerar o sistema político e o tecido económico e empresarial. Hoje ninguém acredita em ninguém nesta anemia institucional.
Daí também a necessidade de encontrar um bode expiatório sui generis, que o Al berto João Jardim poderia encarnar na perfeição. Ou seja, se chegámos a esta decadência em quase todos os subsistemas da governação, das finanças à justiça, o quadro de promessas e garantias sociais feita na fase constituinte do regime democrático – até hoje – faz com que essas promessas já não tenham qualquer fundamento, ainda que continuem a ser desejadas pelas populações e prometidas pelos agentes políticos na esperança de manter a sua sede de apoio socioeleitoral.
É aqui que se abre uma tremenda crise, e os portugueses percebem que só têm duas coisas: desilusão e frustração, e quando hoje vêem e ouvem os agentes políticos prometendo aquilo que já não é sustentável cumprir esbarram com os pregos da realidade na cruz em que se converteram as suas vidas.
E como se isso não bastasse ainda têm de tolerar um político oportunista, o maior sacador de liquidez da república sem dar nada em troca ao continente, o Al berto João jardim, que presidindo a uma região que já beneficiou de milhões de euros e se modernizou e desenvolveu mais rapidamente do que as regiões mais assimétricas do continente – tem a lata de reclamar uma quantia a que, comparativamente ao todo nacional, de facto, não tem direito, ainda que não abdique da sua crónica chantagem, porque é esse o seu método de negociação.
Atitude e comportamento que só envenena as relações políticas em Portugal e, hoje, faz com que a governabilidade esteja presa por um fio, porquanto os agentes do poder não querem ceder nessa mesma chantagem e também já não dispõem da maioria absoluta da legislatura anterior.
É aqui que se abre um novo caminho, o de seleccionar uma vítima expiatória, alguém que possa ser considerado o verdadeiro culpado de tudo de mau que sucedeu à nossa democracia e sobre quem possa recair esse sacrifício, tornando todos os outros inocentes.
Isto significa que alguns sectores da nossa sociedade podem ser culpados de ingenuidade ou até de excesso de confiança, mas, no fundo, querem ser inocentados do crime de erro de condução política que um conjunto sucessivo de actores políticos cedeu ao Al berto da Madeira, e que hoje a única solução para sair deste nó górdio será fazer dele o verdadeiro bode expiatório para que a comunidade volte novamente a respirar ar puro.
Será talvez um custo que a república terá de pagar para expulsar da vida pública alguém que só a corrompe, gerando, caso aquelas pretensões financeiras fossem aceites, ainda mais injustiças entre os portugueses.
Em nome dos princípios, talvez valha a pena correr esse risco, ainda que o visado não valha um tostão furado paraa o chamado interesse público e o bem comum ensinado por Aristóteles.

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