sábado

A Paixão e a Democracia. Recordar Nabokov. Evocação de Rómulo de Carvalho

No romance Lolita, do russo Vladimir Nabokov, a paixão nasce porque o professor de poesia francesa, Humbert, se apaixona por uma rapariguinha de doze anos. Não se consegue fazer amar por ela, que o vê como demasiado adulto, além de Lolita estar apaixonada por outro homem com quem foge. Humbert só reencontra Lolita anos depois, envelhecida, grávida e apercebe-se que continua a amá-la, que a teria amado sempre.
Mas Lolita está destruída pelo grande amor que, afinal, a desiludiu, pelo homem que "destruiu" o seu coração. Mesmo assim Humbert deixa-lhe um pouco de dinheiro que ainda tem e decide matar quem destruiu a vida a Lolita (privando também a sua felicidade com ela).
A história que a princípio parece um acontecimento psico-erótico normal, revela-se uma paixão destruidora e revolucionária para ambos. E que, para ambos, falha.
O pior que poderia suceder à forma como "regamos, podamos e cultivamos" a nossa democracia, que hoje comemora os seus 35 anos de Liberdade, seria fingir que em democracia - tal como nas relações interpessoais - a possibilidade do "acidente" não existe. De facto, existe e está sempre latente na consciência de todos nós.
Por uma razão simples: somos humanos, por trás das instituições estão homens sempre dispostos a iludir e a desiludir, e isso poder "matar" a democracia e danificar a liberdade...
Liberdade e democracia exigem, portanto, vigilância permanente. É como fazer alpinismo, ao mínimo descuido...
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