domingo

Segurança interna

António Costa usado como arma da oposição VALENTINA MARCELINO
Segurança. Críticas de Costa ao Governo foram lembradas no Parlamento
Ministro Rui Pereira mantém silêncio e não ouviu palavras de apoio do primeiro-ministro
Os partidos da oposição não podiam ter tido melhor presente que aquele que lhes foi oferecido pelo presidente da Câmara de Lisboa e ex-ministro da Administração Interna do actual Governo, António Costa. No debate de urgência sobre política de segurança, realizado ontem a pedido do PSD, o conteúdo da maior parte dos ataques contra o executivo nesta matéria era da autoria daquele alto dirigente do Partido Socialista.
Costa acusou, na véspera, a PSP de "falta de estratégia" no policiamento da cidade de Lisboa e de não cumprir acordos com o município para instalação de novas esquadras. Já ontem, António Costa foi ainda mais violento e atingiu directamente o ministro Rui Pereira. Durante uma cerimónia de apresentação de um edifício onde quer que a PSP instale uma esquadra, na Avenida Santos Dumont, em Lisboa, anunciou que ia passar a falar com o Governo Civil sobre matérias de segurança, afastando o Ministério da Administração Interna (MAI).
" Tenho confiança que seja um canal de diálogo sério, responsável e credível. Outros não têm sido, espero que a governadora-civil o seja", declarou o presidente de Lisboa, num claro ataque ao MAI. Acompanhado por presidentes de junta de freguesia do PSD, lembrou que as experiências recentes de relacionamento com o Estado para a instalação de esquadras em Lisboa têm sido "muito más", num historial de "incumprimento" por parte do Governo. Não há uma visão para as questões de segurança na cidade", asseverou.
Fontes políticas consultadas pelo DN notam que as críticas de António Costa podem ser fatais para Rui Pereira. Se a posição de o ministro está muito fragilizada pelo aumento da criminalidade violenta, o qual ainda não assumiu, ter um "peso-pesado" do PS como Costa, em guerra aberta contra si, pode ser um sinal que no aparelho socialista é a sua cabeça que vai rolar quando forem conhecidos os dados dos crimes de 2008. Ou que, pelo menos, não se manterá no cargo no caso do PS formar de novo governo.
As mesmas fontes salientam que, sendo António Costa um homem de confiança do primeiro-ministro (PM), é improvável que as acusações que tem lançado não tenham a bênção de José Sócrates. Na verdade, o PM não defendeu Rui Pereira até ao momento, nem a estratégia de segurança do Governo. Na Assembleia, Rui Pereira não respondeu às provocações da oposição a este propósito. Mas o mal-estar é evidente no seu gabinete.
Obs: Quando se está demasiado tempo nos gabinetes toma-se pouco (e mal) o pulso à cidade e às reclamações (legítimas) das pessoas que desejam mais e melhor segurança. Este "mais" e melhor" pressupõe, segundo as regras do bom planeamento - uma nova localização da instalaçaão das esquadras na capital. Na prática, desafectar recursos onde eles existem em excesso e afectá-los onde eles escasseiam e são prioritários.
O prof. Rui Pereira poderá utilizar a sua inteligência para fazer esse planeamento, talvez seja o caminho mais imediato para prevenir eficazmente a criminalidade na capital. Fazer "ouvidos de mercador" nunca foi boa política, e com a segurança, nos dias que correm, não se deve (nem pode) brincar. Portanto, também aqui o "Estadão" deve começar a preocupar-se em cumprir as suas obrigações com as autarquias.
A CML foi até ao ponto de disponibilizar uma vivenda, com uma área de 300m2, próximo da praça de Espanha para a instalação de uma esquadra da PSP, que serviria uma população de cerca de 30 mil habitantes, e Rui Pereira não respondeu à chamada, como seria natural e do interesse da segurança de milhares de lisboetas.
Acolher o critério de ir abatendo esquadras em função da degração das suas instalações, não só é má política no âmbito do MAI, como revela vistas curtas por parte do titular da pasta e, acima de tudo, não previne o essencial: a criminalidade em Lisboa.
A questão é: em que cidade vive o actual MAI?!