segunda-feira

Regresso do Notas Soltas de António Vitorino

A pressão sobre o Emprego deverá concentrar a preocupação dos poderes públicos neste ano de 2009. Evitar que o desemprego aumente de 17 para 20 milhões de pessoas na Europa será o grande desafio europeu para o ano em curso.
Saber como combater este flagelo social divide hoje a esquerda da direita: aquela aposta no Investimento Público selectivo; esta aposta - em tese - na descida dos impostos.
Provavelmente, nem uma nem outra valem por si, mas se forem articuladas terão mais efeito na economia real e farão regressar a confiança aos mercados.
No plano político teremos um PM que desejará uma 2ª maioria absoluta, o que não será novidade para ninguém - em nome da governabilidade e da estabilidade do país.
Por outro lado, o nível da abstenção eleitoral em períodos de turbulência é sempre um incógnita em termos sociológicos, daí a incerteza que estará associada aos três momentos eleitorais no decurso de 2009. Aqui AV defendeu o cumprimento do seu calendário, i.é, que os três actos eleitorais se realizem separadamente.
No domínio do comportamento dos actores políticos AV também foi previsível, ao defender que PR e PM (e demais actores no sistema), passarão a "tirar as medidas ao milímetro e menos à jarda". Mais vigilância, portanto.
Saliento, contudo, uma nota que me pareceu importante e que obriga o PR a ter cautelas redobradas em toda a sua actuação durante o ano de 2009. Explicito: nos últimos meses Ferreira leite descaíu-se públicamente, e como a sua vocação para a política é semelhante à de muitos portugueses para gerirem lagares de azeite - deu conta em público de conversas privadas que manteve em Belém, à porta fechada. As ajudas de Cavaco relativamente à sua ex-pupila foram discretamente sentidas na sociedade e, por todas essas razões, o Sr. PR terá de actuar de forma tal que da sua intervenção na sociedade não resulte a ideia, por acção ou omissão, que está a ajudar ou a fazer o "frete" à srª Ferreira leite, o elo mais fraco do teatro político nacional.
Ainda assim, desafiou o PM para um debate, talvez para subir algumas décimas nas sondagens, que lhe têm sido desastrosas. Mas também aqui Sócrates comportou-se como um verdadeiro S. Francisco de Assis - que tinha tanto amor para dar que se abraçava às árvores a chorar. Ou seja, Socas ao não aceitar o desafio de leite poupou-a a mais uma humilhação pública, que empurraria, seguramente, o score eleitoral deste psd para os níveis do cds, e isso também seria nocivo para o próprio sistema politico-partidário - que teria assim de conviver com três partidos na casa dos 10%: PCP, BE e, doravante, o psd de Ferreira Leite.
Este será um risco que Belém não deverá correr, nem o País lhe perdoaria.
Cavaco poderá (e deverá), assim como o Governo, concentrar-se em definirem estratégias complementares com vista à captação de Investimento Directo Estrangeiro (nas "arábias", na Asia) para que a Riqueza das Nações não seja apenas uma fórmula vã do estudo dos economistas.
O País não pode esquecer-se que quando votou em Cavaco para Belém fê-lo também tomando em linha de conta aquilo que foi a sua prestação nas décadas de 80 e 90 do séc. XX em que Cavaco foi PM durante uma década, e esse capital-político deve, hoje, traduzir-se em algo mais que vá para além das querelas constitucionais em torno de estatutos insulares e de se revelar uma espécie de notário de Belém ao dar eco das cartas que recebe dos portugueses que já não têm dinheiro para comer e pagar as contas.
Nem o PR é o notário dos pobres em Portugal nem Belém é o Banco Alimentar.