segunda-feira

Art of Noise - Moments in Love. A música altera as percepções de espaço e tempo

Moments in Love dos Art of Noise é, talvez, um dos cinco ou dez melhores instrumentais do séc. XX, digo eu.., enquanto leigo. É como se tivessem nascido apenas para produzir esta obra-prima e não fazer mais nada na vida. Um nada que seria tudo. Um tudo que se eternizou. Há anos que ando para debitar aqui umas generalidades sobre esta pérola, foi agora - esperando nada ter estragado. Parabéns aos Art of Noise - que me enriqueceram a cultura musical na adolescência e depois em adulto.
Art of Noise - Moments in Love

Inúmeras investigações revelam que a música, alguma música, pode melhorar a capacidade de o cérebro percepcionar o mundo físico, formar imagens mentais, tecer narrativas, reconhecer situações, identificar contextos, recriar cenários e campos de hipóteses que nos ajudam a fruir o tempo e até a produzir mais e melhor no domínio social e profissional.
Ou seja, a música é uma alavanca poderosa que afecta a forma como percepcionamos o tempo - que é o espaço onde as coisas acontecem, como diria Sto Agostinho. A música lenta, como é o caso de Moments in Love - aqui balizado - permite que exista mais espaço entre tons que a música rápida. O que faz com que num engarrafamento de trânsito - em que nos sentimos mais comprimidos e confinados, o recurso a uma determinada música tem por efeito dilatar o espaço que nos falta, permitindo-nos descontrair daquela situação.
Ou seja, a música dá-nos espaço e cria-nos o ambiente para explorar a descontração e afinar a imaginação e a criatividade. Neste quadro, a música opera como papel de parede sónico. Fazendo com que a envolvente pareça mais leve e espaçosa e até mais elegante tornando o mundo mais ordenado e activo. Mesmo numa situação stressante como é a de estar "engarrafado" no trânsito. Faça-se o teste e comprove-se os lugares comuns que aqui lavramos, ponha-se a correr Art of Noise numa fila interminável de trânsito e vejam-se os resultados.
Se isto é válido com o espaço, fazendo-nos supôr que numa sala de hospital a recuperação duma perna partida é mais rápida - ajudando a reduzir a sensação de restrição e reclusão, o mesmo se dirá da variável "tempo" nesta relação do homem com a música e com o mundo que o rodeia.
Tratemos, pois, do tempo...
Art Of Noise - Moments in love (Cyberdesign Remix)

... A música também formata a nossa percepção do tempo. Não é por acaso que podemos meter música para nos acelerar ou para nos atrasar. Significa isto que a música é mais ou menos enérgica, repetitiva ou de marcha, consoante os ritmos que desejamos para o contexto.
Música clássica ou barroca suscita uma conduta mais ordenada; música romântica ou new age suaviza a atmosfera stressante. Nalguns casos, alguma música pode até fazer-nos supôr que o tempo parou, a vida congelou, tudo ficando suspenso em redor. Mas se já estivermos num hospital ou num qualquer contexto clínico, os minutos podem parecer horas. E até a música mais cadenciada pode fazer parecer que o tempo passa mais depressa.
Portanto, a música modifica a nossa percepção do espaço e do tempo, alterando a nossa perspectiva sobre o próprio homem e o mundo. A música, de facto, pode criar ilusões temporais que alteram o nosso campo de percepção, Einstein também sabia disto, talvez por essa razão ele se sentisse agradado com a ideia de ter a seu lado um violinista entusiástico.
Pergunto-me se para além do violinista o que sentiria ele se ao "concerto de notas" se juntasse a Adriana Lima...