A violência das imagens
Nas últimas semanas o país tem sido vítima de uma onda de criminalidade violenta. Assaltos a habitações, lojas, transportes de valores, bancos - com a introdução da figura do sequestro - novidade entre nós... O que significa, sem qualquer juízo de valor, que do Brasil não importamos apenas as telenovelas.. Tudo isso é conhecido e noticiado pelos telejornais, a ponto de ocuparem grande parte das suas agendas noticiosas. Chega a ser fastidioso. Dessa forma, somos mais ou menos apanhados pela violência das imagens e por aquilo que elas nos contam e deixam oculto. Trata-se, pois, duma violência tão indeterminada quanto indiferenciada e perigosa. A PSP, com os meios e os homens de que dispõe, até tem feito milagres. Por vezes, com a ajuda preciosa dos cidadãos, que a informam da ocorrência de um determinado roubo em tal lugar. Aqui, apesar de tudo, a novidade é positiva, o que revela que o cidadão hoje participa na prevenção da criminalidade, e constitui-se numa peça-chave para a sua eficiente prevenção. Mas isso não impede que fiquemos um pouco prisioneiros dessa violência e das imagens que ela gera. Depois, o olhar que cada um de nós lança sobre essa violência acaba por naturalizá-la, legitimá-la - como que integrando-o no nosso próprio sistema e padrão de vida. Como se ela fosse algo de natural e até aceitável, tal a sua rotina. É um pouco como ir ao supermercado. Só que ao agirmos desta forma, que é involuntária, estamos - indirecamente, a tornar indistintas as figuras do agressor/agente do crime e a própria vítima que sofre os seus danos, por vezes pagando com a própria vida à mais leve resistência. E, ao mesmo tempo, banalisando a noção de violência e de guerra interior que sedimentamos através dos nossos instintos de defesa psicológicos. Ora, é este círculo vicioso que é perigoso, além do perigo que já representa a própria violência. Pelo facto de não se ver a violência - senão apenas o fluxo das suas imagens, acabamos por acreditar que as imagens, elas próprias, também são sinónimos de violência. Aqui a pedagogia é importante, mas determinante é, de facto, o aumento de meios e de homens da PSP no terreno, melhor apetrechados e com um aparelho legal mais punitivo. O MAI terá aqui de fazer um esforço orçamental suplementar. Há momentos na história, ainda que parcelarmente, em que todos temos de ser de Direita. Acabamos com esta perigosa fábrica diária de imagens do crime quando as forças policiais começarem a combater mais eficaz e generalizadamente a criminalidade que reina no País. Creio, contudo, que aquela percepção de impunidade generalizada que existia no País está sendo gradualmente erradicada. Mas é curto...
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