quarta-feira

"Tudo"

Estrutura do rizoma...
À medida que o nosso conhecimento acerca dos genes aumenta, alteramos os limites do que pensamos que é predeterminado e o que está relacionado com a nossa própria escolha ou responsabilidade. E assim vamos alterando não apenas o que julgamos saber acerca de nós próprios como também a percepção que os outros fazem de nós. Esse conhecimento é, desde logo, relevante no âmbito económico-financeiro com o valor das acções em bolsa. Pois se cada um de nós soubesse, por exemplo, que a Galp se iria valorizar na sequência da descoberta de novos poços de petróleo no Brasil - onde tem participação, teria adquirido de véspera o máximo de acções possível para capitalizar essas mais-valias em breve. Mas esse conhecimento também é relevante em termos de seguros de vida e de saúde, à medida que acontecimentos que considerávamos como fortuitos são, afinal, passíveis de uma apólice de seguro, e tornam-se progressivamente previsíveis. Trata-se de uma consequência da maioria dos avanços em tecnologia médica e é por essa razão que os mercados de seguros não são uma solução para os problemas de saúde. Mas esta equação tem efeitos ainda mais vastos, ou seja, entra pela esfera social. Então se amanhã qualquer um de nós cometer um crime esse acto pode ter origem nos respectivos genes criminais mas também pode ser imputado à sociedade, que foi co-geradora desse crime.

Ou seja, o mundo ficou tão emaranhado, tão envolto em teias e fios de interesse tão cruzados que, hoje, parece já não ser mais possível determinar com rigor quem é o responsável por determinado crime, seja ele de natureza penal, social, político, ambiental... Tornando-se, desse modo, difícil distinguir o grau de responsabilidade da natureza, da educação, pessoal sobre cada um desses crimes que as sociedades contemporâneas vão registando.

Na prática, quando hoje vejo o sr. António da Asae fumando uma cigarrilha no Casino (um fait-divers ridículo), quando vemos o estado em que se encontra a pedofilia em Portugal (grave), o estado da Justiça em geral (gravíssimo) e inúmeras situações problemáticas como a luta intestina que se estabeleceu no seio do bcp - podemos concluir que não são apenas as nossas atitudes pessoais a ter o peso social, mas também o valor das nossas instituições económicas que são, em rigor, responsáveis pelo bem-estar da sociedade e do sistema jurídico que, afinal, rege o comércio e a globalidade da actividade económica.

Numa palavra: quanto mais aprendemos sobre o funcionamento da sociedade ou sobre genética, política ou economia, mais frágil é a fronteira que ainda faz essa distinção entre esses saberes.

Hoje, estamos sempre no meio de "tudo"... Um tudo que é uma selva, mas também pode ser um cristal.