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José Adelino Maltez no Sobre o tempo que passa retrata-nos o duopólio partidário que vivemos em Portugal. A história é a ferramenta

Corria o ano de 1901. Em 8 de Agosto, por proposta de um governo regenerador, melhor dito hintzáceo, fabricava-se uma lei eleitoral, previamente acordada com os progressistas, melhor ditos lucianistas, onde o bloco central do situacionismo de então procurava evitar a subida ao parlamento de dissidentes e republicanos. Chamaram-lhe a ignóbil porcaria. Porque, como assinalava Júlio de Vilhena: o sistema, que se tornou geral nos partidos, de viver bem com todos, de corromper os mais renitentes, chamando-os ao governo e aos grandes cargos do reino, foi viciando os costumes e os caracteres, de sorte que nos últimos tempos não havia senão interesses e nenhuma dedicação sincera por ninguém. Todos procuravam o seu sossego e as suas comodidades e ninguém tinha coragem para sacrificar a vida. O exército estava corroído pela propaganda, e na classe civil não havia força para arrostar com o elemento demagógico (Júlio de Vilhena). [...]
Obs: Veremos agora o que os pequenos partidos conseguem fazer nas Comissões parlamentares, no sentido de reverter a imposição do duopólio que vai regendo e ditando as regras nesta democracia (local e nacional) pouco pluralista. Pergunto-me se no plano local ou nacional esta imposição top-down serve o País. É claro que não. E em Lisboa, muito curiosamente, o PS até precisa de um independenpente, o Zé Sá Fernandes, suportado pelo BE - para viabilizar o que houver a viabilizar. Sinal de que os pequenos partidos são necessários aos checkes & balances que a cada momento a correlação de forças político-partidárias estabelece. Por este andar qualquer dia ainda apelidam este nosso e santo regime de Democracia Popular, safa...
Um exercício tão simples quanto comezinho mas que tem a virtude de ilustrar o que referimos: imagine-se o que seria o actual Parlamento sem o BE e o deputado Louçã!!! Que é, sem sombra de dúvida, a oposição mais vigorosa neste momento em Portugal.
Santana é um lorpa da democracia, está onde está mercê duma negociata com meneses para assaltarem o poder na Lapa, é um tribuno desqualificado e descalssificado, não conta nas grandes questões; Portas é aquele conservador-liberal que pode prometer tudo e o seu contrário, pois na próxima década sabe que jamais ascenderá ao poder, pois o milagre Durão barroso não se repetirá. Jerónimo é um quisto da democracia. Sobra quem? senão Louçã - que anima as hostes e vai fazendo oposição, por vezes com radicalismo, mas obriga o PM e o PS a pensar economia.
Numa palavra, acabar ou limitar o acesso ao poder local ou nacional dos pequenos partidos é, no limite, reduzir a espessura de Portugal, na medida em que o País vê também limitado por essa via a sua produção de ideias e competição de projectos em prol do bem comum, que é para isso que a Política serve.