Portugal from outside e o "Tratado dos Jerónimos"
Imagine que é um ET e aterra neste rectângulo luminoso e pacato chamado Portugal. Um País hoje políticamente governado por um PM da (dita) esquerda moderna, mas que concita boa parte do centro e da direita do espectro político. Um PR, em Belém, que é de direita mas fez o pleno nas últimas eleições presidenciais, e nas sondagens que que se fazem amiúde é o político português melhor cotado nesses índices de popularidade que pululam por aí.
De modo que temos um PM em S. Bento - que acabou por dar cartas na Europa, sendo um verdadeiro Talleyrand na arte diplomática, gerindo bem interesses contrapostos e que soma duas verdadeiras vitórias politico-diplomáticas, seja com o Tratado (reformador) de Lisboa que será amanhã assinado no Mosteiro dos Jerónimos, (21 anos após a assinatura do nosso Tratado de Adesão à então CEE) e, agora, com esta viragem histórica realizada na cimeira UE/África cuja vantagem - e não tendo nenhum objectivo específico - foi o de criar um espírito global de confiança e de automotivação que poderá levar ao dinamismo político, empresarial e cultural entre os países, as sociedades e os povos dos dois continentes - europeu e africano - que estão profundamente ligados por laços culturais, históricos, económicos e políticos. Para o melhor e para o pior.., dado o complexo colonial nuns casos ser de mais difícil digestão.
Paralelamante, temos o PR em Belém que ratifica tudo aquilo que Sócrates já fez e vai fazer no domínio internacional e comunitário. Resta saber se Cavaco - nessa cooperação estratégica com o governo - consegue acrescentar algo de seu no muito que o governo já fez. Ou se, como suspeito, repetirá gestos e actos do governo sem lhe acrescentar nada. Nesse sentido, Cavaco seria uma espécie de câmara de eco de Socas, pois sempre que S. Bento falasse Belém amplificaria esse som e ecoava os sound bites de Socas; sempre que o PM recordasse o sucesso da lusofonia Cavaco anuía com a cabeça num sinal de ratificação da decisão do governo a partir do cadeirão de Belém. Seria, pois, um mimetismo permanente que Cavaco faria ao governo sem que daí resultasse qualquer novidade politico-diplomática.
E por que razão as coisas são desta forma e não d'outra? Tentarei explicar: Cavaco, consabidamente, é um actor político sem grande história democrática, o seu legado prende-se com a modernização e o desenvolvimento que permitiu a emergência duma classe média, mas não tem background na luta pelas liberdades, e quando chegou ao governo já Mário Soares tinha um intenso historial politico e de negociações que prepararam a abertura de Portugal à Europa cuja assinatura se concretizou nos Jerónimos em 1986, aquando da nossa adesão à então CEE - juntamente com o Reino de Espanha.
Nesta lógica e visto a história a esta luz, amanhã quando forem lidos os textos solenes do Tratado de Lisboa no Mosteiro dos Jerónimos - será, creio, Mário Soares quem será recordado e não o actual locatário de Belém. As auto-estradas de Cavaco não chegam para "comprar" o espírito de adesão de Portugal à então-CEE assinado pelo "bocheixas" - como antes se dizia. E a recente experiência política de Cavaco em Belém também não apagará o intenso e conturbado período de Soares em Belém - de que aquele bem se lembra numa coabitação problemática.
O legado de Sampaio, nesta equação geral, é tão limitado ao pé de ambos que se arrisca a ficar diluído na história. Salvo num capítulo lamentável da nossa praxis política recente: a demissão do governo Santana Lopes por manifesta incompetência e degradação das condições políticas de governabilidade.
Será que esta imagem cola à realidade se nos propusermos ver Portugal de fora para dentro nestes últimos anos?
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