segunda-feira

Notas Soltas - por António Vitorino -

O Congresso do psd, que mais parece uma recauchutagem de pneus Mabor General numa doca antiga, a Europa e o Orçamento para 2008 foram objecto de atenção por AV no Notas Soltas d' hoje.
Do Psd já se disse tudo, quase tudo, pois trata-se dum fenómeno paranormal, algo que integra mais o Entroncamento do que Torres Vedras, e com o tempo veremos como terei razão ao ter apelidado aquele congresso de Congresso do Entroncamento. Pois dele o n.º 2, Santana, ganhou mais dimensão politico-mediática do que o próprio líder, e Meneses que não é Barroso, nem lá perto. Por isso, como sublinhou António Vitorino, as coisas afiguram-se mais agitadas, crispadas e até conflituais para o PS, mas também acrescentou eu, para a própria liderança. É o velho problema de 2 galos na mesma capoeira...
Veremos se o Socas não terá de ajudar os rapazes da Lapa que se irão pegar dia sim, dia sim...
Com a agravante de SLopes estar como aqueles territórios que perderam a alma e boas porções de terra, ficam irredentos, é assim que santana se sente: um homem em guerra civil constante, irredento e com as mãos agarradas às facas, os dentes prontos a ferrar para se vingar da desgraça que um quase desconhecido deputado, depois PM, lhe infligiu.
Daqui decorre que a desgraça de Meneses é o desastre de Santana, o desastre de Santana é o poço de Meneses, como sublinho AV, como se fossem siameses na desgraça, na medida em que são ambos homens que pela natureza da sua personalidade, recalcamentos, história, ambições, objectivos e trajectórias, mais cedo ou mais tarde, entram em rota de colisão intestinamente deixando a bancada parlamentar do PS pregada no chão a rir, sem que daí resulte algum benefício para o debate parlamentar da República.
Quanto ao programa de governo de Meneses mais parece uma amalgama saída de um livro do Milton Friedman, com jeitinho até o O2 privatizam, depois anda tudo a respirar por um tubo ligado ao multibanco com um taxómetro a medir a bandeirada de oxigénio... Meneses é médico, não é!!! Tanta preocupação social, tanta generosidade e, tudo para todos... Afinal, a ideia estratégica subjacente ao seu programa de governo (ensombrado, seria privatizar todas as áreas sociais e económicas) subtraindo ao Estado essas suas clássicas funções sociais. Mormente em matéria laboral, o que significa, na prática, permitir o despedimento. Tamanha incoerência deste Flexi-segurança-Meneses.. Mendes já deve estar a rir-se preso ao bonsai - onde tentou suicidar-se, dizem..
Depois Meneses tentou fazer um passe de mágica e tentar por os autarcas contra o governo dizendo que este odeia o poder local. Só vi o Al berto da Madeira bater palmas, mais ninguém. Estaria grosso?! Ninguém se empolgou, porque será? E é óbvio que o Al berto não é exemplo para ninguém, pois trata-se de um oligarca há 30 anos no poder que além de ter obra feita - tem conseguido esse ranking pela manipulação que faz dos recursos públicos, quer em matéria de agenciamento de empregos para os seus boys na administração regional, quer na adjudicação de obras públicas sempre aos empresários (amigos, que servem a causa) do costume. Ou seja, meneses acabou por fazer a vénia ao Alberto que logo cobrou a factura dizendo - cínicamente - que se Meneses se portar bem em 2009 leva mais um torrãozinho de açucar amarelo... Lamentável!! Só de Al berto.
No fundo, neste capítulo Meneses foi igual a MMendes, só que este teve a coragem de ir ao Chão da Lagoa ao beja mão e beber uns traçadinhos, Meneses fez o beija mão na sua entronização congressional do Entroncamento que, afinal, foi mais tributária do relançamento do "canastrão da política lusão" - que um dia deu um bacalhau a Sá Carneiro - do que própriamente da sua afirmação pessoal e política e com uma ideia de governo para Portugal alternativa do PS.
Mas o constrangimento maior do País é, sem dúvida, o desemprego, seja entre licenciados, como ainda hoje José Adelino Maltez sublinhou na TSF, seja entre outros segmentos qualificados da população. E é aqui que o governo terá de concentrar os seus esforços recuperando algumas políticas sociais, inovando, criando novos programas de incentivo ao emprego, parcerizar com PMEs e estabelecer um novo Plano Integrado para o Emprego em Portugal. Finda a gestão política da UE sou de opinião que essa deveria ser a principal missão do governo socialista até ao final da sua legislatura, de par, naturalmente, com a concepção de políticas públicas de atracção de investimento que coadjuvem aquelas medidas integradas.
Em matéria de tratado Europeu na 6ª feira já temos, em princípio, um novo instrumento, em Dezembro recebemos o Mugabe e a África fica toda a ganhar, e pelo Natal a gestão política da presidência portuguesa da UE pode fazer um balanço positivo, mas sempre com a noção de que tem de arregaçar mangas até 2009 para reactivar e cumprir algumas promessas eleitorais feitas em 2005.
Sendo este orçamento um instrumento de investimento público, sem que isso tenha sido pormenorizado e quantificado, esperemos que ele também reflicta os nós górdios (sociais) que o governo terá pela frente até 2009.
Neste momento qualquer alternativa ao PS seria um desastre completo, e em matéria de musculatura democrática (ou deriva autoritária do governo), tenho para mim que Sócrates nem sequer saber do que os paisanos, os sindicatos andam por aí a fazer. Embora alguns dos seus ministros devessem ter mais atenção à gestão política das suas funções e competências.
Mau grado a comparação, até em ditadura o velho Salazar não sabia de muita coisa que a Pide fazia. Por isso, não me surpreende que Sócrates e o governo desconheçam o que os métodos de clandestinidade do velhinho pcp (subterrâneo e tipográfico) anda por aí fazendo com o fito de armadilhar o governo e implodir com o PM em plenos actos oficiais. No fundo, é a revolução do proletariado em directo, o recurso aos métodos leninistas no séc. XXI.
A minha grande dúvida é saber se esta continuada actividade quase clandestina do pcp (e apêndice, leia-se CGTP) encontra agora parceria à altura (na dupla maravilha - Santa & meneses) ou se estes rapazes resolvem ser umas pessoas responsáveis e fazer uma oposição à Sá Carneiro. Coisa de que muito duvido por razões óbvias...