segunda-feira

As Notas Soltas de António Vitorino

Gostei hoje de ver As Notas Soltas de António Vitorino (AV). Não goza dum entrevistador passivo e mudo, como outros, mas também poderia beneficiar de um José Alberto de Carvalho (mais disciplinado) - evitando ser o "picareta-falante" em que se torna - copiando o estilo, qui ça, a Fátima Campos Ferreira que, por vezes, não deixa o entrevistado falar e chega a incomodar o telespectador. E muitos zarpam, e não é por causa do entrevistado..
Analisada a forma, vamos ao fundo de algumas ideias-quadro que aqui reproduzimos com a nossa subjectividade, naturalmente.
1. Em matéria de PSD AV congratula-se por L.F.Meneses avançar, assim MMendes contabiliza sua vitória antecipada e já não vai sózinho, o que se temia com uma oposição difusa. Acresce, que antes de perder Lisboa - MMendes perdeu muitos vice-presidentes, o que fragilizou a sua liderança, embora o objectivo seja - com as directas - de refrescar a sua liderança e planear a rampa de lançamento para as eleições legislativas de 2009. E aqui o objectivo do PSD e do CDS é comum: tirar a maioria absoluta ao PS.
2. Mas as directas no PSD serão realizadas com que ideias? Com as quotas, com a cacicagem, com os ajustes de contas? Consabidamente, estas lutas internas pouco ou nada dizem ao país, e se assim for o PSD ainda fica abaixo dos dois dígitos e vai fazer companhia ao CDS. Por isso, fez bem A.Vitorino ao questionar-se acerca de que tipo de clivagens ideológicas, programáticas ou outras alimentarão a tensão entre os dois candidatos: Mendes e Meneses.
2.1. Porventura, pensarão os concorrentes em desenvolver clivagens do tipo social visando racionalizações distintas das políticas sociais e económicas? Terá um posições mais maximalistas relativamente ao outro? Articularão políticas de regulação com políticas de distribuição? E quem defenderá umas e outras? Será Mendes mais adepto das funções do Estado e Meneses mais promotor das funções privadas? Terá, porventura, Meneses uma posição de negociação dialogante que contrastará com uma eventual atitude mais dirigista de Mendes na percepção dos negócios dos Estado?
So far, só se sabe que as quotas, a forma do seu pagamento e o ajuste de contas interno entre ambos - é que está na ordem do dia. Ideias por trás daquelas testas - ZERO. Deve ser do Verão.
Em matéria social Socas acabou por dominar o debate da nação a semana passada, ao introduzir medidas de apoio à Natalidade - que AV bem sublinhou. Até porque na Europa do Sul se as mulheres pudessem ter mais filhos não hesitariam em tê-los, desde que, claro está, as condições socioeconómicas o permitissem, e estes apoios à natalidade, aumento das vagas nas creches, dilatação de funcionamento do seu horário, aumento de duração da licença da maternidade, licença de paternidade - acabam por consubstanciar uma política pública eminentemente social que o PS toma e que vem repor alguma consciência social, senão perdida pelo menos esquecida.
O que corrobora um ponto essencial: este 2º mandato do governo terá de ser vocacionado para as questões sociais: Saúde, Educação..
Sendo que em pista paralela corre outro campeonato: o da presidência portuguesa da UE, que, entre outras coisas, comporta a necessidade de concluir o futuro Tratado de Lisboa (aqui a semântica também conta, além do nome - "Lisboa" - ficar bem em qualquer parte do mundo, até em Lisboa) dentro do mandato conferido e da disciplina férrea que deveremos ter até ao termo da presidência.
Sendo certo que a Polónia é o velho bode expiatório, que já vem da I e II Guerra Mundiais - e que atravessou todo o dramático séc. XX; embora as resistências possam ser outras - decorrentes da própria redação do articulado; das reacções da França e da Holanda e dos seus perigosos precedentes em matéria de referendos; e, naturalmente, da posição de Sua majestade, o RU que pode e quererá fazer vingar as suas tradicionais clausúlas de excepção.
Todavia, isto não obstará a que o Tratado de Lisboa deixe, certamente, de ter esse bonito nome. Pois entre uma concepção de Europa com uma Coordenação harmonizada - com uma unidade na formação da decisão estratégica, com especializações internas e participação conjunta dos Estados membros na formação das políticas da União, com processos de convergência e de harmonização, organização de redes operacionais e criação de um sistema institucional comunitário - celere e eficaz - e uma outra concepção da Europa - multipolar, fragmentada ou regressiva - não restarão dúvidas acerca do melhor modelo de desenvolvimento político a seguir.
Portanto, quero crer que o método mais eficiente é aquele sublinhado por António Vitorino: seguir à risca o mandato que Portugal tem e, como se diz na gíria, malhar no ferro enquanto o ferro está quente, porque depois já é tarde, e a resistência dos materiais também não ajuda.
Infelizmente, esta realidade da "engenheiria das temperaturas" também se aplica a muitas outras realidades..., mas o Tratado de Lisboa - tal como ele é hoje perspectivado pelo decisor nacional será uma realiadde a prazo.
Ou em Outubro ou em Novembro-Dezembro, sendo que aquela velocidade de mãos de António Vitorino denota essa mesma preocupação.