segunda-feira

Portugal em roda livre na geografia do rectângulo

Hoje é dos tais dias de deriva, não há assunto que mereça a chancela duma novidade estruturante. Arriscar falar da Bola e da vitória do FCP seria ter de teorizar acerca do energúmeno do Pinto das costas, olhar para as guerrilhas partidárias implicaria bater no ceguinho em que MMendes há muito já se transformara; equacionar Lisboa e a podridão que por lá campeia seria repetir notas aqui já desenvolvidas e questionar a honorabilidade de quase todo aquele pessoal político menor, pois os que são arguídos são uns pobres de esprit, os que ainda não o são não têm espírito, e os que não têm nem uma coisa nem outra são umas autênticas nódoas que mancham a circularidade de Lisboa - a capital da desgraça destes últimos 2 anos de gestão Carmona-MMendes-António Preto.
Valorar sobre os índices do desemprego (8,4%) é estar a arranjar uma briga com os números, porque a meretriz da estatística nunca foi uma ciência exacta, serve interesses políticos para os amigos que no momento ocupam o poder. De pedofilia aguardamos que os tribunais setenciem ou absolvam os srs. carlos Cruz, da menina Madeleine - nem valerá a pena falar, pois as pistas são tantas que nos perdemos nesse carrefour de inspectores e de declarações ocas de conteúdo e vazias de sentido.
Na Uni nada se sabe, ainda vira uma Oxford da zona ribeirinha, os empresários são os mesmos parasitas do Estado, este, por seu turno é um caloteiro ainda maior, a sociedade e a classe média brasileirou-se, endividou-se e qualquer dia começa a assaltar bancos com pistolas de plástico, recriando cenas de carnaval. Resta-nos o turismo, o Verão, o sol e a praia que estão à porta, e usufruir essas maravilhas da Natureza e fazer como o carioca - que tem sempre dois casacos: um para pendurar na cadeira de trabalho e outro para transportar consigo. De modo que quando o público/utente pergunta pelo funcionário que se ausentou, o colega de serviço pode sempre dizer que foi ao WC visto que o (2º) casaco continua pendurado na cadeira. Entretanto, o carioca foi surfar a onda, ver bundinha e tomar chopinho...
Ora, é assim que Portugal está: pendurado num cadeirão que somos todos nós. Ante isto valerá a pena continuar a meditar nos marcelos, nos telejornais, nos raptos de crianças feitos por pedófilos que há muito já deveriam ter sido castrados como se faz aos bois, nos tratados constitucionais desta Europa adiada, na eleição do Sarkosy que andou a papar a filha do Chirac e depois despachou-a para os Campos Elísios meia coxa - arranjando uma inimizade com o Papá-Chirac que acabou de substituir da cena política francesa e europeia?
Creio que não. Então, legitimamente, coloca-se a questão: pensamos o quê, mastigamos mentalmente o quê acerca deste País chamado Portugal; dissertamos sobre que tema ou problema? Sinceramente, não vejo grandes temas: aparece-me a falsa ensonsa da Helena Roseta que esconde mais manha partidária do que o António Preto, o Sá Fernandes que daria um bom espião ao serviço do SIS, o sr. Ruben de Carvalho faria um bom lugar de electricista da festa do Avante, as opas falhadas nesta nossa economia de casino e de capitalismo selvagem apenas vocacionada para a geração de mais-valias e não para a criação sólida de riqueza, emprego e de distribuição equitativa de rendimentos entre os portugueses. Em pista paralela, a banca e as empresas do balsemão continuam a aumentar as mais-valias anuais. Mérito deles ou demérito nosso?!
Olho para este Portugal, seja do Castelo de S. JOrge, de Alfama, do Rossio, da Vela Latina alí em Belém, wherever e só vejo pequenas IC19 entopidas neste nosso querido e maravilhoso Portugal. Numa palavra: Portugal virou um deserto de tudo o que de importante possar pensar-se, e já nem o sol, o mar e as areias finas das praias são o que foram. A mulher portuguesa também tem mais celulite, apesar dos SPAs hoje existente para onde elas vão queimar as quilotoneladas de calorias alojadas naqueles sítios mais recônditos do corpo humano - e que hoje se assemelham às rugas e à celulite do Portugal contemporâneo.
Numa palavra: Portugal virou um país sitiado, um país de destino para os outros, uma prisão para os que cá estão e desejam partir. Portugal começa a ficar só, e quando encontra companhia desola-se e oprime. A presença da Europa desencaminha-nos - porque ao vermos os outros a correr mais e melhor percebemos melhor quão coxos e marrecos somos e cegos nos tornámos: em pensamento e em acção.
Tanta análise, tanta síntese, tanta atenção para chegarmos a este caminho sem sentido, a esta cratera. Um desalinho de tristes geografias em busca doutros amanhãs que cantem, mas com estes políticos, este empresariado, esta classe média, estas instituições.. só poderemos frequentar a praia de Caxias repleta de submarinos.
Julgo que para compreender estas minudências do Portugal (político, social e económico) post-moderno temos de nos destruir previamente, como diria o Pessoa. Até porque compreender é sempre esquecer de amar, como diria o génio, e hoje vê-se pouca gente de valor a amar Portugal. Até nisto estamos perdidos, também os países, não obstante os seus diferentes níveis de desenvolvimento, tendem a tornarem-se mais parecidos.
Qualquer dia confundimos Portugal com uma abóbora..

PARA DESENJOAR, MOLOKO...

Moloko Bring it back, sing it back
(Versão maoista, dedicada ao durão barroso, o porteiro da Europa)

Moloko - Music Video : Forever More