quarta-feira

O paradoxo do barbeiro - por Sir Bertrand Russel -

Os paradoxos são interessantes porque são verdades de pernas para o ar, de modo a chamar a atenção. Há ali sempre um triunfo supremo da razão ao lançar dúvidas sobre a sua própria validade. A filosofia vive muitas destes dispositivos de descoberta da "verdade". Vem isto na sequência duma interrogação que me habita os neurónios e que creio ser legítima: quem faz a barba ao barbeiro? A questão já é antiga - e fez carreira noutros formatos sob a hipótese - quem vigia o Estado (?), quem controla as polícias (?), quem julga os juízes (?) e por aí fora. Seremos aqui mais comezinhos e limitados. Limitados a este paradoxo trivial colocado, aliás, pelo "maior" filósofo do séc. XX, Bertrand Russel. Que imaginou uma vila onde há um barbeiro que faz a barba a todos os homens que não fazem a barba a si próprios. Quem faz a barba ao barbeiro? Este é um paradoxo trivial, mas outros reflectem questões mais fundas do pensamento, desafiando as nossas convicções. E até a chocar-nos, o que nos obriga a substituir umas ideias por outras a fim de percebermos o mundo em que vivemos. Aliás, creio que o Macroscópio é ele próprio filho dum paradoxo: nasceu duma ficção para chegar à "verdade", ainda que para isso conte aqui um conjunto de coisas que desconhecemos se são inteiramente verdade. Mas o que é a vida senão essa curta narrativa de meias verdades para ver se adiamos o mais possível a verdade final - que culmina na morte!? É bom pensar nisto, que também é outro paradoxo..., de pernas para o ar e termina sempre arrumado num caixão castanho. Mas também já existem outras cores.. As cores da Verdade.
Aqui vemos Bertrand Russel jogando xadrez com a sua 3ª mulher, Peter Spence