sexta-feira

A mentira na política: o Príncipe tem o direito de enganar o povo

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REFLEXÃO DO DIA: dever-se-á mentir ao povo com vista à sua salvação?
UMA PEÇA DE FILOSOFIA POLÍTICA COM AVIÕES, TERRORISTAS, LÍDERES EUROPEUS E MUITAS OCTANAS À MISTURA. UM MOLOTOV DO NOVO TEMPO.
Lembrem-se que a desonestidade e a cobardia se pagam sempre. Não pensem que se pode lamber as botas à América de G.W. Bush - por mais importante que os EUA sejam (e são-no em muitos e variados aspectos) ou a outro qualquer durante anos e depois, de um momento para o outro, ficar limpo, branqueado e civilizado por via da europeização de circunstância, do acaso procurado e premeditado, e voltar a ficar mentalmente decente. Como dizem os antigos, "puta um dia, puta a vida inteira" - um adágio forte mas que pauta, de algum modo, um dos traços estruturantes da política internacional e dos processos decisórios que aí ocorrem, se expandem e aperfeiçoam. Nesta medida a política, pela sua própria natureza, neste epifenómeno da CIA ou de qualquer outro de alta política (que implique segredo de Estado), convoca duas coisas: mentira e violência, mas não necessáriamente por esta ordem.
O epifenómeno dos alegados actos ilícitos dos aviões da CIA que terão passado por território de soberania portuguesa com terroristas lá dentro - configura uma já mui velhinha questão política. O da arte da mentira na política, tão velha quanto o mundo e a mais velha profissão do mundo... Trata-se duma ciência da mais ampla usança e arte do fingimento, como dizia Baltasar Gracián. Aqui a grande questão é a seguinte: dever-se-á enganar ou iludir o povo para seu bem? Naturalmente, que há, desde logo, uma base fisiológica para a mentira. Um pouco como a alma tem um lado liso, oriundo de Deus que transmite fielmente os objectos; e um lado cilíndrico, herdado não do maoismo mas mais do Demónio, que sistemáticamente deforma e oculta esses objectos e materiais políticos.

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A questão tem agitado a arena política doméstica, e até já levou o MNE, Luís Amado, a dizer que se demite de algo ou por algo que não pode ser responsável ou responsabilizado - nem objectiva nem subjectivamente. É uma situação herdada, um câncer que vem de trás e como não se trata duma dívida de Estado ou de regime não deve ser ele a arcar com esse custo político ou com essa responsabilidade, caso exista.
Esta questão é antiga, e remonta A República de Platão e ao Príncipe de Nicolau Maquiavel: dever-se-á, para seu bem, esconder a verdade ao povo, enganá-lo com vista à sua salvação??? É aqui que entra a arte da mentira política. É aqui que concorrem - juntos e concertados (ainda que dissimulados os srs. Coelho e Barroso) - denunciando um princípio antigo, que consiste na tal mentira e/ou ocultação de fazer crer ao povo falsidades salutares, com um certo fim. Assim como o povo não deve ser inteligente, rico, ter terras ou castelos e outros bens patrimoniais, esse mesmo povo - porque é estúpido e acometido de paixões que o desequilibram - jamais deverá saber a verdade política, daí ser "legítimo" mentir-se-lhe. É precisamente isto que está em causa neste CIA affair que envolve o nome de Portugal e, por extensão, remonta ao legado de Durão, da Cimeira dos Açores e de tudo quanto legitimou a invasão ao Iraque cujos efeitos políticos, sociais, económicos e humanos/segurança estão hoje bem à vista de todos. À vista do mundo inteiro.

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Hoje há mais insegurança (estratégica) e menos investimento e, por extensão, menos riqueza e os três motores da economia mundial (EUA, Ásia e Europa) também estão paralisados por força deste novo condionalismo estratégico, constante do terrorismo em rede que "vende" uma mensagem e um efeito apocaliptíco, aterrorizador.
Assim, se estabeleceu a máxima de que o povo é tacanho, fica como e gelo ante as verdades, e fogo diante das mentiras - que sempre pode ser levado ao engano. Hoje, diante deste facto, é gritante ver como os responsáveis por estas decisões, em termos mediatos (Barroso) e imediatos (Freitas dos Amaral que ainda está a convalescer, e vai continuar pelos vistos...) se ocultam sob estratégias rocambulescas, gerando simulacros de (des)aparições e de não existência em que um se esconde em Comissões de inquuérito europeias presididas por amigos (Durão e carlos Coelho) e outros porque se ocultam na compaixão da dôr justificada numa operação à coluna vertebral.
A uns e outros desejaría dizer aqui que quando não puderem deixar de se misturar com o público que ponham uma máscara... Porque este ambiente e caldo de cultura político no plano da razão de Estado é, verdadeiramente, dissimulatório e cobarde, como cobarde e dissimulatório é o recurso a essa velha meretriz que decorre do recurso à mentira. A mentira de Platão e de Maquiavel. Hoje a mentira da Comissão Europeia e da América de G.W. Bush - que é mais um erro histórico-genético do que um acidente político, ou ambas as coisas simultaneamente.
Torna-se comum que quem detém o poder deve defender-se de inimigos externos e internos, tem, pois, o direito de mentir, ou de dissimular por forma a não deixar passar aquilo que é. Esta relação coloca também um problema de filosofia, de epistemologia, de cognoscere/conhecimento e da forma como podemos alcançá-lo.
Este episódio da CIA, mau grado a analogia, faz lembrar a estória daquele médico que esconde ao doente a gravidade da doença que o atinge. E, ao mesmo tempo, aqueloutro defeito ou vício que mostra como o doente faz exactamente o mesmo ao médico, ocultando-lhe a gravidade dos seus sintomas e da sua doença. É um ritual duplo que condena o doente: num caso porque o médico escondeu a verdade ao paciente, no outro porque este não falou verdade ao médico.
Resultado: o doente, quer dizer, Portugal, só muito dificilmente se pode curar deste mal e escapar à cura. Pois a qualidade moral e a natureza oportunista e carreirista dos políticos que tem em lugares de responsabilidade e comando não o permitem condenando, assim, Portugal a uma doença crónica que só o mantem vivo porque ligado à máquina. Como português lúcido (e de bem) que me considero - confesso que isto me entristece e desagrada profundamente. Isto além de um retrocesso político é um recuo civilizatório. O eleitorado não pode (mais) continuar a premear este tipo de agentes políticos que assaltam o poder unicamente para se servirem das benesses e do status que ele oferece, e não para servirem a polis global, como seria suposto segundo os contratos políticos que estabelecem com as populações em sede de eleições livres de democráticas.

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Cremos, portanto, que Luís Amado, pelas declarações que fez, abusou da sua própria tolerância e plano de responsabilidade pondo a sua própria cabeça na guilhotina política que deveria, seguramente, ocupar-se doutros pescoços. Isto conduz-me a uma questão maior que está a montante: a dos lucros cessantes em Política e que se formula assim:

Pensemos só no que Portugal, a Europa e até o mundo já perderam por não ter sido o então Comissário António Vitorino - homem politicamente preparado e impoluto - a liderar os destinos da Europa.

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