quarta-feira

Evocação de Agostinho da Silva

Na vida tive poucas referências que foram muita coisa ao mesmo tempo. Hoje, de S. Salvador da Bahia/Brasil - uma pessoa visita este texto com frequência. Parece que o faz não para ler o texto - que já conhece - para revisitar o homem. Deve ser da saudade. Pode até ser o seu filho... Se fôr aqui fica essa partilha de afectos tendo por base este exemplo socrático que também sabia ser amigo daqueles que o procuravam para falar de tudo e de nada. Ter uma conversa com este homem era mais importante do que ter uma centena de doutoramentos, especialmente se forem honoris causa - daquele que adornam a cabeça de zaramago. Ele era múltiplo de si próprio e até acho que eram as palavras que proferia que o pensavam a ele. Deixou um legado, amigos, saudade, muita saudade - tanta que até dá vontade de perguntar a Deus como se regride no tempo para ter acesso a mais um rendez-Vous alí ao Príncipe Real. Feito da argamassa de um Camões, de um Pre. A. Vieira, de um Fernando Pessoa (Eça não, porque era um aristocrata cagãosinho), embora escrevesse excepcionalmente bem, mas faltou-lhe uma dimensão humana que só no fim tentou compensar com A Cidade e as Serras, mas a variável "povo" - nunca povoou os romances de Eça... Agostinho "topava-os" a todos e já tinha tanto de sabedoria como de manha de experiência feito naquele seu olhar de menino rebelde, de modo que falar com ele era já um recontro com o séc. XX, um certificado de humanidade que nos abria os horizontes para comprrender o novo mundo que sobreveio depois. Um mundo que não surpreendeu nenhuma das suas conjecturas ou hipóteses. Ou melhor, quase todas elas sobre a sociedade da informação, a nova economia, o Estado, a cooperação internacional, a paz e a guerra, a lusofonia e muitos outros items e temas de interesse para Portugal caem dentro do molde do pensamento profundamente humanista que cá deixou. Portanto, não foi o mundo que surpreendeu Agostinho da Silva - mas este que andou sempre à frente do mundo. Hoje essa saudade também está vertida nessa vanguarda - numa espécie de fusão trilemática do tempo (em que passado-presente-futuro) se fundem num novo tempo. Um tempo cuja dimensão, espessura, velocidade e efeitos ainda não descobrimos como funciona. Talvez um desafio mais que ele nos deixou...
  • Sábado, Abril 30, 2005 O Mestre, sempre ele a trocar-me as voltas à memória... Corre a ideia pitoresca de que se pode construir filosofia sem uma educação científica profunda e uma informação sólida dos resultados a que vão chegando as diferentes ciências. Moços e velhos pensadores com ligeireza se dispensam de saber como funciona a geometria analítica. Eis umas palavras deste amigo e mestre. Mestre do pensamento e da acção, mestre da amizade e dos afectos, dos valores, da pátria e da identidade lusa e, ao mesmo tempo, cosmopolita. Enfim, um verdadeiro cidadão do mundo, gémeo de Sócrates, o filósofo.