sábado

Pensamentos marvónicos

Estes pensamentos são mais conjecturas do que verdadeiramente pensamentos. Até porque para se pensar efectivamente Marvão convém lá ir e ficar, pelo menos, lá mais de três dias seguidos para se começar a perceber as dinâmicas do ar, as dinâmicas da terra e depois as dinâmicas da própria entropia em que alguns ca(i)em fazendo cair os outros com eles, como naqueles acidentes em cadeia. Mas neste preciso instante, que já passou, dou comigo supondo que momentos há na vida em que para salvarmos uma realidade - mais sonhada do que materializada - damos connosco a arranjar letras, colá-las em palavras, engendrá-las em frases e depois colando tudo a cuspo de modo a que a mestela faça algum sentido ao (con)texto. Quantas e quantas vezes muitos de nós já não observaram aquela mestela de composição errática a fim de tentar transformar a ilusão do significado dum objectivo, duma meta, duma política reflectido num sentir da má consciência. É claro que aqui o leitor terá de suspeitar de que toda a linha esconde um segredo, que as palavras não dizem mas sim aludem ao não dito que elas ocultam. Imaginem o que seria o mundo se o Zidane não viesse pedir desculpa ao mundo por aquela nefasta cabeçada?!!! Imaginem o que seria o mundo se certos gestores, políticos, médicos, professores de vez em quando não tivessem de pedir desculpa às comunidades em que operam pelos respectivos erros. Errar é humano. Mas a vitória de quem ouve, neste caso de quem lê - consistirá em fazer dizer tudo ao texto, salvo aquilo em que pensava o autor, porque assim que se descobrisse que há um significado privilegiado, ter-se-ia logo a certeza de que não era verdadeiro. No fundo, o que quero dizer em bom português é o seguinte: o Eleito é o que compreende que o verdadeiro significado de um texto - duma simples carta - é o seu vácuo. Quando isso não sucede está tudo estragado, a prazo...
  • N.B.
Pelo carácter semiótico da reflexão dedicamo-la a Marvão e aos marvanenses por "nem sequer saberem" a sorte que têm - além de muitos outros azares - de habitarem uma terra tão mágica quanto sagrada e modelada por uma geografia ímpar que tem tanto de belo como de madrasta.