quinta-feira

Sugestão de livro. Marvão, again...

As Cidades Invisíveis O viajante veneziano Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitara. O desejo de Khan é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve. São lugares imaginários, sempre com nome de mulher Pentesiléia, Cecília, Leônia. Os relatos curtos são agrupados por blocos: as cidades e a memória, as cidades delgadas, as cidades e as trocas, as cidades e os mortos, as cidades e o céu.
  • Nota: como mero cidadão que já criou raízes em Marvão - confesso que esta notícia do chumbo a Património Mundial pela Unesco era tão previsível quanto frustrante. Desde há 8 meses que não via uma sombra sobre o assunto, uma linha de interesse escrita em qualquer pasquim... Julgo que aqui a incompreensão de que os processos globais estão parcialmente encaixados em territórios nacionais foi gritante. Como outsider, embora atento e relativamente informado, constatei a existência de dois mundos: o mundo da autarquia, estático, aguardando que as coisas caminhassem por si, talvez locomovidas pelo vento da Serra e pela obra e graça do Espírito Santo; e o mundo dinâmico da esfera internacional, o mundo das organizações transnacionais dinamizadas por interesses contrapostos, por processos e variáveis de modernidade, por concepções sobre o espaço, o património e todo o capital-cultural ligados às cidades e vilas históricas deste Portugal cada vez mais descentrado do núcleo económico e político da globalização. Julgo que a incompreensão para este projecto, e não vou aqui tecer comentários acerca da natureza relacional entre os agentes políticos e científicos que estiveram na origem e direcção do projecto de candidatura de Marvão a Património Mundial (que remonta a 1998), muito embora como sociólogo e politólogo reservo-me o direito de em breve o fazer, radicou, na essência, nessa dualidade, no choque entre aqueles dois mundos. O que também pôs a nú as ténues ligações entre o poder local e a Administração Central - neste caso através do ministério da Cultura - que também se revelou a "Leste do Paraíso"... Até me dá vontade de perguntar onde fica o exílio... Muito provavelmente, em Espanha...
- Trocando por miúdos: o actual executivo de Marvão deveria ter percebido que a crise do Estado levava-o a não dizer nem uma só palavra sobre o projecto, tanto mais tratando-se de cores políticas diferentes, o que só dificulta o relacionamento (Estado-Poder Local) - dada a cultura política que preside à mentalidade e ao funcionamento dos nossos agentes políticos. Por outro lado, essa dualidade global/local sugere que existem dois espaços que se sobrepõem, i.é, onde começa um termina o outro. Tamanha ilusão. Pois neste caso de Marvão - em que a Natureza é verdadeiramente excepcional, apenas faltou a empresa e o engenho humano, a componente global (através dos critérios da Unesco) teriam de se materializar num lugar específico que é Marvão. Mas não a qualquer preço, não tendo como base uma total ausência de estratégica cultural e política.
- Olhando de fora, creio que faltou a necessária combinação institucional que, em boa medida, procura esbater as exigências dos critérios universais da Unesco com as especifidades regionais daquele bloco rochoso a quase 1000 m. de altitude onde vemos os pássaros pelas costas e, por vezes, pela nuca. E faltando essa capacidade de "fabricar significados" culturais regionais como é que poderíamos convencer o "mundo" de que, afinal, temos em Marvão uma singularidade histórico-patrimonial tal que a Unesco concederia a sua chancela... Sejamos optimistas, tenhamos esperança... Mas não sejamos tudo isso, e, ainda por cima, ingénuos. É muito vício ao mesmo num espaço de tempo muito curto.
- Dedicamos esta singela reflexão aos marvanenses - que é boa gente e recebe bem.
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