segunda-feira

Uma lição de coragem por Odete Santos

Há só um programa de tv que não perco na tv portuguesa: o dr. House à 5ª feira. Confesso que ver o dr. Marcelo aos domingos falar de futebol faz-me lembrar os donos da Bola de searas & companhia, de modo que a coisa enjoa em dois tempos e o zapping irrompe à velocidade da lux. Hoje soube que a carismática deputada e poetisa do PCP - Odete Santos - se precipitara para um programa onde se dança, e quis registar o momento e homenageá-la singelamente neste espaço (pouco burguês). Pois se falamos aqui de Marcelo - que agora se armou no analista da sapatilha - não vemos porque razão não elogiar aqui a determinação duma mulher que subiu a vida a pulso, não tem complexos, assume-se como é e isso, só por si, vale um globo de ouro. Mas mais: ela sabe que não é grande espingarda a dançar, ainda assim foi e mostrou souplesse; ela sabe que quando se dança o pior são os pés, ainda assim foi e dançou; ela sabe que quando se dança é preferível integrar uma orquestra, e ela assumiu as luzes da ribalta; ela sabe que danças - em certas circunstâncias - é como algumas bebidas, não se devem agitar antes de usar. Sabendo tudo isto, esta senhora revelou coragem, carácter e determinação. E no fim ainda teve a lucidez de teorizar marxisticamente sobre a origem das valsas que cunhou de "dança burguesa". Ao invés, o tango, por ser uma dança sofrida dos pobres nos bairros sul-americanos, seria uma dança do proletariado. Antevi naquela lucidez uma nova luta de classes a partir das danças que cada um quer, pode e sabe dançar. Em suma: só hoje percebi que é Odete Santos que mantém viva a chama no PCP. Ela é simultaneamente a "formiguinha" e a "cigarra" do partido, no fundo é uma deusa grega que acredita na democracia, apesar desta meter água e de se saber que as eleições são um náufrágio nacional. De toda aquela coreografia fiquei só com uma dúvida: será que Odete Santos ainda acredita na reforma agrária...
  • Macro-despacho: pergunte-se a Jerónimo de Sousa, que é um exímio dançarino que fazia furor nos bailaricos onde penetrava, o que pensa da entrevista política na forma dançada que Odete Santos deu à RTP no programa dança comigo.