segunda-feira

Marcelo (o Papa), Galbraith e J.F.Revel

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  • Ontem fiquei com três ideias em carteira para resumir aqui:
1) Vendo as preocupações de Marcelo na RTP sobre a economia portuguesa - donde doutrina os seus Conselhos (informais) de Estado para auxiliar Cavaco, e atentando nas suas advertências a Sócrates - que anda a mascarar os problemas estruturais do País - até pensei que a genialidade do prof. Marcelo avançasse com uma ideia que aqui há tempos sugerimos a fim de resolver esse problema do défice crónico e estrutural da economia portuguesa: raptar o Papa Bento XVI, o pontífice menos amado dos últimos tempos, e pedir um resgate de 1dólar por cada católico do mundo. Mesmo que fosse tudo a brincar, a ideia talvez tivesse pernas para andar, sem qualquer ofensa para os católicos, e muito para Jesus - que pouco ou nada tem a ver com a igreja depois criada. Fica a nota.

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2) A morte de John Kenneth Galbraith é uma perda lamentável. Como é um homem com denso e largo pensamento situamos aqui um muito resumido enquadramento, na linha de Max Weber, Raymond Aron e outros - de que Galbraith foi herdeiro - e se preocupou em teorizar a sociedade industrial, ou melhor, a affluent society (sociedade da abundância) que o notabilizou mundialmente. O estudo da tecnoestrutura, sob vários ângulos e a ideia de que as diferenças ideológicas já não eram vector que distinguia as democracias capitalistas das chamadas democracias populares (segundo expressão de François Feijó) - foi outra das derivas do seu rico e original pensamento social, económico e político. Quem hoje quiser compreender a fundo a evolução do capitalismo, da sociedade industrializada, as patologias da sociedade de consumo, o mercado terá de regressar ao velho embaixador de J.F.Kennedy em Nova Deli, na Índia. Apesar de economista, Galbraith percebera que a dinâmica que comandava os processos era de natureza política, nesse sentido era um neo-maquiavélico, um aroniano e um weberiano. Hoje há um excesso de meios que nos permite realizar todos os projectos, ainda assim estamos todos falidos. Eis aquilo que aqui poderia designar por paradoxo de Galbraith perante quem me curvo pelo muito que com ele aprendi através dos seus inúmeros livros, verdadeiros faróis do conhecimento e do pensamento do séc. XX. Morre como um clássico, já é um intemporal. Já se imortalizou. Bem haja John Kenneth Galbraith.
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3) Jean-François Revel cuja morte venho a saber pelo blog Portugal dos Pequeninos (e aqui) que, por sua vez, nos reencaminha para a Grande Loja do Queijo Limiano - também nos deixa a todos mais pobres. Nem Marx nem Jesus foi o arranque que pautou o diagnóstico da conjuntura dos últimos 30 anos. Nem Marx nem Jesus teve grande projecção no pensamento político e social nas décadas que se seguiram até ao presente. E a avaliar pela penúria económica de toda a Europa e pela falta de fé associada à multiplicação dos conflitos de natureza religiosa - encontramos neste autor - pró-americano - um esteio de pensamento de vanguarda que nos perturbou a todos, mesmo por parte daqueles que o desprezaram ao longo da vida. Revel cedo percebeu a mudança de valores em curso no mundo e na Europa; ele cedo percebeu que os factores de mudança não passavam pelo Estado ou pelas relações de propriedade (marxistas) e pela estrutura jurídica. Algo de diferente impregnava a nossa existência colectiva. Últimamente dedicou-se à compreensão dos vectores que geraram as contradições do antiamericanismo, da antiglobalização, do ódio à América (post-11 de Setembro), às guerras culturais e a um conjunto de vectores que consubstanciaram os "bodes expiatórios" dos últimos 20 anos. Foi, acima de tudo, um pensador que pensou bem e muito antes dos outros terem pensado o que ele pensou melhor. Também lhe devo muito do pouco do que sei. Também lhe estou grato. Paz à sua alma. Esperemos que amanhã não bata às portas da blogosfera e alguém me diga: agora foi o Edgar Morin. Se isso suceder, confirma-se a ideia de que os homens de 40 anos - são os testemunhas da desgraça. Amanhã outros dirão o mesmo de nós, sem, óbviamente, nos querermos aqui comparar com ninguém. É a lei da vida. Aqui não há mesmo volta a dar. Até porque Jesus nem sequer era economista, nem sociólogo, nem politólogo. Era simplesmente carpinteiro. Para mim basta-me.
  • PS: É curioso vir a saber destes factos, tristes pela sua natureza, através da blogosfera e não pelos jornais. Também isto é um sinal dos tempos. Embora não queira sugerir, ainda que subtilmente, que a blogosfera está a matar a "jornalada". Não!!! Pelo menos não o está fazendo a grande velocidade. Nisso respeita os jornais tradicionais. Estes ainda são apetecíveis apenas pelo dinheiro que pagam às pessoas que neles escrevem. Se um dia as instituições deste país pagassem o trabalho que a blogosfera tem feito - muitos dos bloggers - já estariam certamente mais ricos do que Belmiro de Azevedo. Alguns até tão ricos que em vez de fazer uma OPA à Pt faziam duas Opas: uma à Pt e outra a Belmiro. E outros ainda comprariam toda a Av. Fontes Pereira de Melo e o Marquês de Pombal - só para porem lá em cima - uma qualquer outra coisa bem mais interessante que o Sebastião e o leão. Talvez a "cabeça" de Belmiro, já que nada de melhor me ocorre hoje dizer neste triste dia do trabalhador. Pois nem o Sol já é o que era... Tudo muda - até a vida. Hoje dizemos presente; amanhã enterram-nos num caixote mais ou menos envernizado (consoante as bolsas). Estranha esta nossa existência! Tipos que escreveram o que Galbraith e Revel escreveram não deveriam morrer, ainda que nem sempre concordássemos com eles.